sábado, 11 de dezembro de 2010

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A casa de Marta era o oposto da de Susan. Havia muitos vasos de flores, cortinas absurdamente floridas e móveis de várias cores. O sofá era de um vermelho vivo, chamativo, e muito confortável. John ficou sentado ali, enquanto ouvia as duas moças na cozinha, arrumando a mesa e terminando os pratos.

- Então, quer dizer que arrumou um namorado? – ele ouviu Marta sussurrando.

- Ah... Mais uma companhia temporária, Marta. – pôde notar o tom de escárnio na voz de Susan, e se ressentiu.

- Tem certeza que é só isso, querida? E essa marca no seu pescoço?

- Shh... – Susan abaixou o tom de voz – Nós temos um trato agora. Ele não vai mais tentar me matar. Vai me proteger. Ou tentar. Não deixe que ele saiba que você esta a par de tudo...

Elas ficaram em silêncio depois disso, ou o barulho da louça era mais alto do que a conversa, pois John não pôde ouvir nada. Então a velhinha havia percebido. Por um momento pensou em fugir, mas pelo tom de Susan achou que seria desnecessário. Talvez tivesse sido tudo um plano, para que ele não possa realmente mudar de idéia e matá-la, agora que tinha uma testemunha. Não podia ter certeza, a moça era mais esperta do que ele queria.

Não demorou para que o chamassem à mesa. Sentaram-se e comeram, com Marta desempenhando bem seu papel enchendo John de perguntas sobre sua vida profissional. Ele inventou ser um agente de viagens, por isso passava muito tempo fora de casa, motivo pelo qual Susan ficaria um pouco fora.

Ele também descobriu algumas coisas da senhora, como o fato de ela ter sido uma dançarina famosa em sua juventude, e que mesmo tendo sido casada, não pôde ter filhos. Foi assim que ela praticamente adotou Susan como sua quando ela se mudou, já que os pais da jornalista haviam falecido há alguns anos.

Após algumas horas Susan se desculpou, dizendo que tinham algo a fazer, e subiram. Ao chegarem no andar superior, ela foi direto para seu quarto, voltando com um grosso livro sem capa, sentando-se ao lado de John do sofá.

- Notas de aula? – ele perguntou, irônico.

- Quase isso. Notas de crimes conhecidos de assassinos por contrato, e a maioria de artigos sobre os crimes que Walter comanda. – ela folheou as páginas, como se estivesse procurando algo específico.

- Como você descobriu Walter?

- Não descobri, na verdade. – sorriu – Sei tudo que ele fez, faz e talvez até o que planeja fazer. É o mesmo esquema de sempre, tráfico de dinheiro, drogas, produtos. Cada vez de um jeito diferente. Só é possível perceber a assinatura se conhecer os detalhes de cada um deles.

- E qual é ela?

- Como se eu fosse contar a você, não é mesmo?

- Como quer que eu brigue contra algo que nem ao menos conheço? – John acertou uma almofada em Susan, frustrado.

- Conhecimento – ela apontou para si mesmo – Força bruta. – apontou para ele.

- Não acho isso muito justo.

- Então estude sozinho e descubra. – ela arremessou o livro contra John.

- Vamos passar a noite aqui? – ele segurou o livro agilmente, seguindo-a.

- Ninguém nos viu. Preciso ler um pouco e juntar material. Você também.

- E por que você não fica aqui estudando comigo? – disse, segurando-a pelo pulso.

- Penso melhor sozinha. – sorriu.

- Precisa aprender a pensar em grupo. – John puxou-a para mais perto.

- Falou o cara com o trabalho mais solitário do mundo. – empurrou-o.

- Talvez se eu tivesse a sua companhia abrisse uma exceção... – disse ironicamente.

- Pena... – ela se virou, entrando em seu quarto e batendo a porta.

John sorriu para a porta fechada. Então ela não tinha mentido quando dissera “Só hoje” no dia anterior. E ainda tinha muitas coisas a esconder, depois daquela estranha conversa com a vizinha.

Resolveu seguir o conselho de Susan, lendo a coletânea de artigos que ela cedera. Realmente, só após terminar de lê-los a altas horas da madrugada pôde perceber a marca de Walter em todos os crimes: Sem pistas. Nenhuma impressão digital. E quando a carga é encontrada, é totalmente abandonada.

Nessa hora ele também percebeu que deveria dormir ali mesmo, no sofá. Pelo menos havia algumas almofadas, nas quais logo se acomodou e dormiu.

Nos dois dias seguintes também não saíram da casa. Ficaram bolando planos para os próximos passos, e Susan lembrou que tinha de ir a uma festa na quinta-feira à noite. Como eles supunham que até lá Walter já saberia da falha, escolheram um hotel não muito longe do local.

Nesta última noite na casa, John dormia pesadamente no sofá de novo. Sentia um pouco de frio e acordou levemente, percebendo que um cobertor estava sendo colocado sobre si. Por reflexo, puxou a mão que segurava a coberta, e Susan caiu sobre ele com um resmungo.

- Estava esperando, é? – ela tentou puxar seu braço.

- Torcendo seria mais adequado – sorriu, tirando uma mecha de cabelo do rosto da moça.

- Ok. Achei que estivesse com frio. Gostaria de voltar a dormir, por favor. – outra tentativa.

- Mas aí você vai ficar com frio. Afinal, aqui o cobertor é natural. – acariciou o rosto dela levemente.

- Prefiro tecidos sintéticos...

- Não adianta mentir. Já estava pensando em mim antes, é óbvio. – ele puxou-a até ficar a alguns centímetros de Susan.

- Não sonho com assassinos, John. – a respiração dela se tornara pesada, tensa.

- E com seguranças particulares? – a cada palavra ele beijou o rosto dela em lugares diferentes.

- O salário é bom? – sorriu, aproximando-se.

- Excelente. – John levantou levemente sua cabeça, até os lábios encostarem nos dela, afrouxando o aperto do pulso.

- Prefiro empregos mais seguros. – ela disse, sem desencostar os lábios, levantando e indo para seu quarto em seguida.

John a assistiu, sorrindo.