domingo, 16 de janeiro de 2011

6 - Sem Título

Quando acordou no dia seguinte John achou estranho Susan ainda estar dormindo – e ainda por cima abraçando seu braço compulsivamente. Observando-a mais atentamente, reparou que ela estava com olheiras de quem não dormira por muito tempo. Olhou para o relógio: 11:14. Suspirou. Começou a levantar, mas assim que soltou seu braço da moça, ela sentou-se com um pulo.

- O que? Que horas são?

- Onze e quinze. Parece que você deu uma de bela adormecida ruiva hoje. – John sorriu, vestindo uma camiseta.

- Falou o belo adormecido. Você nem se mexe dormindo. É impressionante. – ela entrou no banheiro após pegar uma roupa, saindo trocada.

- Acho que bebi mais do que o normal. Geralmente tenho o sono leve, mas não lembro de você seqüestrando meu braço...

- Eu não o seqüestrei. Senão teria pedido o resgate antes que você levantasse. – ela sorriu.

- Ainda há tempo hã – piscou, sorrindo de volta.

- Não... Na verdade não há mesmo! – Susan se levantou de repente – Você tem que devolver as roupas alugadas até o meio dia... Para não pagarmos multa, entende?

- Está sugerindo que eu saia e te deixe sozinha, aqui? – levantou uma sobrancelha.

- Sim. O que pode acontecer dentro de um super hotel seguro como este? Pode ir, e aproveita e passa no Survey’s pra pegar almoço. Vou ligar para fazer o pedido quando você sair.

- E se acontecer alguma coisa? – John disse, com a mão na maçaneta.

- Erro meu, eu me responsabilizo. Mas calma, Johnny, você exagera...

- Quer dizer então – ele riu – que você pode me chamar de Johnny e eu não posso te chamar de Susie?

- Xo, bobo. – ela riu, fechando a porta com ele do lado de fora.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Sem Título - 5

Na manhã seguinte, John acordou com o celular tocando.

- Venom? Não vi nada nos jornais. O que isso quer dizer?

- Ela é muito esguia, Walter. Não consegui pegá-la ainda.

- Você tem sorte de eu ainda não ter te pago, e de não saber quem é! – Walter gritou ao telefone – Mas saiba que se eu o encontrar... Considere-se tão morto quanto Roth!

Desligou. John suspirou. Isso podia manchar o nome dele pra sempre. Começava a achar que era um tolo, quando Susan passou vestindo um roupão azul. Ele fingiu dormir para poder ficar observando-a, enquanto colocava o café para fazer. Ao ficar na ponta dos pés para pegar o pote de açúcar, levantou-se furtivamente e colocou-se atrás dela, prendendo-a contra o balcão.

- Hm... Café da manhã? – sussurrou ao pé do ouvido da moça.

- Diria só café. É muito cedo para você estar acordado e poder comer. – ela pegou o açúcar e colocou sobre o balcão.

- O problema é que estou com fome... – ele disse, beijando-a no pescoço.

- Se vire, então... – acotovelou-o no estômago, se desvencilhando e seguindo para seu quarto.

John demorou um pouco para recobrar o fôlego, e quando o fez a campainha tocou.

- Abra a porta, por favor! – Susan gritou do quarto.

Ele resmungou e abriu a porta. Lá estava um homem baixo, careca, de meia idade, com um olhar transtornado atrás de grossos óculos de grau. Mediu-o completamente, antes de falar.

- Susan está?

- Por parte de quem?

- Will Jones, chefe dela.

- Ah, desculpe... Pode entrar, ela já vem. – John abriu passagem para o homem.

- E quem é você, posso saber?

- Julian. Sou o encontro de Susan dessa noite. – ele sorriu, apertando a mão de Will.

- Hm. Ela realmente devia parar de arrumar caras só pra esses eventos. – Will resmungou, e teria continuado se Susan não tivesse saído do quarto, quase correndo.

- Sr. Jones, não o esperava tão cedo...

- Vim saber da matéria. Você disse que teria uma escrita hoje, sem falta, e ainda não recebi. Já são 7:30 e isso é estranho para os seus padrões.

- Houve um problema... E eu atrasei um pouco. Mas aqui está. – ela passou-lhe um papel, escrito a mão.

- Não teve tempo nem de digitar? – Will bufou, mas começou a ler a matéria.

- Não. E falando em tempo, vou ter que viajar por um certo período... Se eu encontrar alguma coisa envio por correio.

- Estranho. E absurdo você viajar depois disso. Está excelente! Mas tem certeza?

- Passei a maior parte da madrugada confirmando. Pode publicar, que até o fim do dia a polícia confirmará. – Susan sorriu.

- Acho bom. Vai precisar do carro para ir pra festa?

- Seria bom. Às nove?

- Certo. Vejo vocês dois lá. – Will disse, saindo logo em seguida.

Susan sentou, suspirando longamente. John ficou parado o tempo todo, observando-a. Cansou de esperar que ela falasse e resolveu começar.

- Sobre Walter?

- É. Achei que fosse um bom jeito de ele ficar sabendo que você não me achou ainda.

- Como vamos fugir depois se estaremos com o carro do jornal?

- Fácil. A tarde você leva sua moto já para a região, e depois a gente se vira. – Susan deu de ombros – Você tem preguiça de pensar.

- A parte de pensar é toda sua. Não tenho smoking para usar.

- Passe na Tender’s no caminho. Já está reservado.

- Como? – ele levantou uma sobrancelha.

- Algumas pessoas gostam de acordar às seis da manhã. Obviamente, não é seu caso. Café?

John ficou assistindo-a fritar os ovos e o bacon, nervoso. Logo saiu e fez o que precisava fora de casa, conferindo os preparativos da viagem durante o resto do dia.

Faltando quinze minutos para as nove, ele terminava de arrumar sua gravata, acreditando que Susan ainda não estaria pronta. Bateu na porta do quarto, e entrou ao ouvi-la permitir. Ela estava se olhando na frente do espelho, usando um vestido preto longo, com as costas à mostra, sem o zíper fechado. Se sentiu culpado, pois o corte se sobressaía na brancura da pele da moça, e ele não pôde deixar de ficar olhando. A frente era um pouco mais aberta, e um colar com um pingente de cristal pendia de seu pescoço, combinando com os brincos e o coque que fizera.

- Você pode fechar? O movimento dói para mim.

Ele acenou com a cabeça. Demorou mais do que o necessário, acariciando toda a pele que podia alcançar no caminho, e percebeu que o cabelo da nuca de Susan ficou arrepiado ao fazê-lo. Ficou parado ali, com o rosto sobre o ombro dela, sorrindo para a imagem corada no espelho.

- Pronto. Linda como sempre, só um pouco mais majestosa. – sorriu de forma sedutora.

- Acha que me ganharia só nessa? – ela saiu de perto, passando um batom avermelhado.

- Não. Mas não desisto. – sentou-se displicentemente na cama, observando-a.

- Está perdendo seu tempo. – passou rímel, depois virou-se para ele.

- Discordo...

Ouviu a campainha. Suspirou, e ambos foram para o carro.

- Não acho uma boa idéia irmos a essa festa. – John disse, ao observar os fotógrafos se amontoarem ao redor da porta.

- É em comemoração a um prêmio que ganhei, pela matéria que te rendeu esse emprego e me rendeu a morte comprada. – Susan ofereceu-lhe um chapéu.

- Ahh, então você quer comemorar minha companhia? – ele piscou, colocando o chapéu de forma a ocultar quase todo seu rosto.

Susan revirou os olhos e desceu do carro assim que a limusine parou. John a acompanhou, mantendo-se meio afastado e com o rosto encoberto. Ficou observando como a moça lidava bem com a imprensa, sorrindo para todas as fotos, mesmo com seu passo apressado. Subiram até a cobertura do hotel.

John tentou evitar, mas não pôde deixar de ficar boquiaberto com o ambiente. Um lustre de cristal gigantesco pendia no centro do salão, iluminando uma pista de dança onde vários convidados dançavam, com grandes mesas cheias de aperitivos e bebidas ao redor. Susan logo pegou dois copos servidos por um garçom jovem na hora, passando um para o outro.

- Não vamos demorar... Aceitaremos cumprimentos, não comeremos muito, evite bebidas alheias. E o mais importante: sem gracinhas.

- Tá bom, mamãe. – John sorriu, tomando um gole.

Susan o apresentou a várias pessoas como Julian, seu novo namorado agente de viagens, e como eles fariam um tour por várias cidades do país como pré lua-de-mel. John quase chegou a acreditar nela, e se limitava a sorrir e a acenar.

Após algumas horas disso, Susan sentou-se em uma das mesas enquanto John ia buscar mais um copo de champagne para si. Ele já se sentia mais leve, mas acreditava ser melhor ficar assim um último dia, antes de ter que começar a ficar alerta. Enquanto observava em volta, notou um homem de bigodes oferecer um drink à Susan, que sorriu amigavelmente aceitando a bebida, e sentiu-se irritado. Ela recusara todos que ele oferecera; o que aquele homem velho, de bigodes, tinha que ele não tinha? Aproximou-se da moça, abaixando-se.

- Gostaria de dançar, Susie? – sorriu, irônico.

- Com licença, senhor. – ela sorriu – Devo me dedicar a meu encontro agora.

- A vontade, senhorita. – o homem de bigodes disse, fazendo uma mesura.

John demorou um pouco para se dirigir à pista de dança. Não esperava que ela aceitasse e levou alguns segundos até perceber que ela o fizera. Assim que começaram a dançar, ele notou que sua parceira estava tensa, olhando ao redor.

- Susan, o que foi? – sussurrou.

- Acho que é melhor irmos. Estamos sendo vigiados. – ela respondeu ao pé de seu ouvido.

- Esperto o vigia. Estando em um lugar onde não podemos vê-lo...

- Eu não estou paranóica. Sei que estamos sendo observados. Quero ir. Anda. – ela o puxou em direção a saída.

- Pois eu acho o contrário, Susie... Acho que você está ficando absolutamente maluca.

- E eu acho que você tem que parar de me chamar de Susie. Não tenho mais cinco anos. – ela praticamente esmurrou o botão para descer do elevador, que não tardou a chegar.

- Mas você fica linda frustrada. Isso não vale nada? – John acariciou o rosto de Susan levemente.

- N-não. Pare com isso. Você bebeu demais. – ela se afastou. – Que bom que eu fiz o check-in antes de subirmos.

- Se estamos sendo observados, acho que perceberam isso...

- E ainda quer que eu aceite elogios. Absurdo. – Susan saiu do elevador, seguindo para sua suíte.

- Você que acha que são elogios. – sorriu, apoiado no batente – Só divulgo meus pensamentos.

- Vai entrar ou ficar aí, nessa... pose? - Susan piscou rapidamente.

John não sabe o que viu no olhar dela naquele momento, nem ao menos se lembra de onde veio o impulso que teve. Só sabe que estava na porta e então segurava o rosto de Susan entre suas mãos e a beijava. De início, tentou se soltar; beijou-o de volta, mais ansiosamente do que ele; desistiu... puxou-o pela gravata, soltando-a, apertando-o contra si. Surpreso, ele só a beijou de volta, acariciando seu longo cabelo ruivo, seu pescoço, suas costas... Ao começar a puxar o zíper de seu vestido, no entanto, foi arremessado ao chão. Atordoado, não conseguiu entender o que acontecera. Observou Susan se levantar e entrar no banheiro, batendo a porta atrás de si.

Esfregou os olhos, pensando o que ele fez de errado dessa vez. Tirou a camisa e trocou as calças do smoking por outras de moletom, sentando-se na cama com a cabeça entre as mãos. Susan saiu do banheiro também de pijamas, com os olhos avermelhados, ele viu por entre os dedos de sua mão. Sentiu um peso a seu lado no colchão.

- Não posso John. Por mais que eu queira.

- Por quê? – ele a olhou.

- Não suportaria... perder mais um. – ela sussurrou tão baixo que John quase não a ouviu.

- Mais um o que?

- Não me faz falar. Por favor. – ela passou para o outro lado da cama, virando de costas.

Ele suspirou, começando a se levantar.

- Fica. Eu... confio em você.

John levantou uma sobrancelha, surpreso. Não achava que merecia tal confiança.