segunda-feira, 15 de novembro de 2010

3-

As semanas passaram tranqüilas em Hogwarts. O primeiro fim de semana em Hogsmeade se aproximava, no final de Setembro, possibilitando aos alunos a criação de estoques para a pós-festa de Halloween deste ano.

Durante o jantar do dia anterior, João estava inquieto na cadeira. Kibble e Symons haviam sido detidos após explodirem suas poções na aula de quinta-feira, e não poderiam ir ao vilarejo.

- João... Já disse pra chamá-la. Você sabe que gosto de ficar sozinha. – Jen sorriu.

- Eu sei... Mas e se você não ficar sozinha? Se encontrar...

- Depois daquela detenção não cruzei com ele mais nenhuma vez. Ele está se escondendo. Vai logo, ou eu chamo ela por você!

João sorriu e seguiu para a mesa da grifinória. Jennifer assistiu ao grande sorriso no rosto de ambos, e o seguiu com os olhos enquanto ele saía do salão. No entanto...”Ahh, não vai sair com ela mesmo, otário....” Stuffen seguiu-o para fora do local, e Jen foi atrás. Conseguiu pegá-lo no instante em que ia azarar seu amigo:

- Levicorpos! – ela sussurrou.

- Ei! Sua maluca! Me põe no chão! – Stuffen gritou.

- Shh. Se tentar azará-lo de novo pelas costas... – ela apontou um dedo para o rosto dele – Não vou pousá-lo delicadamente no chão.

- Acho bom você fazê-lo, Srta. Skole. A menos que deseje ser detida novamente. – Luke disse, saindo de sua sala.

- Como quiser. – ela acenou com a varinha, e Stuffen caiu sentado no chão.

- Dez pontos a menos para a Corvinal por isso. E dez a menos para a Sonserina também, ouvi o Sr. Melber começando a azaração.

Stuffen saiu andando pisando duramente no chão, e Jennifer acenou antes de ir, o que fez sua corrente tilintar, chamando atenção do professor.

O tempo começara a esfriar, com os traços do outono aparecendo. Jennifer acompanhou João até este encontrar Mary, e então seguiu seu caminho para a Dedosdemel. Renovou seu estoque de doces, colocando tudo na bolsa que enfeitiçara para ter um tamanho muito maior do que aparentava.

Mais para o fim da tarde chegou à porta do Três Vassouras, mas desistiu ao ver o local cheio de casais e o grupo de Stuffen ali. Virou-se e seguiu para o Cabeça de Javali. O lugar era mais escuro, mais feio e com muito menos pessoas, mas ainda sim ela sentou-se ao balcão, pedindo uma cerveja amanteigada.

Quando estava terminando a caneca, uma voz conhecida saudou-a e sentou-se ao lado.

- Cabeça de Javali, Jenny? Sozinha?

- É mais calmo do que o Três Vassouras, professor. – ela nem desviou o olhar.

- Por favor, mais uma caneca para a moça e uma para mim. – Luke pediu, já colocando o pagamento das três sobre a mesa.

- Eu tenho dinheiro, e não preciso de mais uma. – Jen disse, seca.

- Estou te devendo bem mais que isso, afinal. Deixe eu tentar compensar. – ele piscou.

Jennifer corou, enrolando as mangas e tomando um gole. Luke ficou assistindo-a, e reparou novamente na pulseira que estava ali.

- É aquela corrente? – perguntou.

- Quase. Aprendi a mudá-la de forma ano passado. – ela respondeu, abaixando a manga.

- O que quer dizer com quase? – ele instintivamente puxou o braço dela, levantando a manga para olhar melhor a jóia.

- Q-q-quero dizer exatamente isso, quase... Ela tem umas peças a mais.- sussurrou.

- A mais? – aproximou o braço dos olhos para observar melhor.

- Sim. Ela estava incompleta quando...Você sabe... – tirou a mão, corando e levantando – Bom dia para o senhor...

Ela correu porta afora, e só parou quando estava no começo da estrada. Estava confusa, nervosa e um pouco frustrada consigo mesma. Foi provavelmente a única oportunidade de conversar com Luke a sós, e ela a estragara. Suspirou. Melhor assim. E voltou para o castelo.

O dia de Halloween chegou junto com as folhas em queda das árvores por todo o terreno. Todos já haviam esquecido da surpresa que Dumbledore mencionara, mas não demorou muito para que percebessem o esquecimento: Pouco depois do fim das aulas uma carruagem gigantesca apareceu, pousando próximo da porta da escola. Hagrid, o guarda-caças, foi rapidamente cuidar dos cavalos, enquanto uma delegação de alunos e alunas seguia uma alta mulher para dentro da escola. Logo em seguida, um grande navio antigo aparecia no Lago Negro, de onde saíram mais estudantes seguindo um velho homem à frente. Logo os alunos de Hogwarts também se apressaram de sentar às suas mesas, aguardando Dumbledore.

- Como acredito que a maioria de vocês esqueceu dessa surpresa, vamos declará-la logo: Decidimos tentar recomeçar o Torneio Tribruxo! Como agora precisamos de uma união entre todas as partes do mundo, pensamos ser este um bom jeito. Se nada der errado, planejamos manter esta tradição a cada quatro anos. Portanto, dêem boas vindas a seus colegas estudantes de Beauxbatons e Durmstrang!

Todos aplaudiram os alunos entrando. A diretora da primeira escola era muito alta, séria, e Dumbledore a apresentou como Mme. Maxime. Seus alunos eram todos belos, de traços finos e frios, e meramente acenaram com a cabeça para todos. Os membros da segunda escola eram mais sombrios, todos usando carrancas a espelho de seu próprio diretor, Prof. Hurgav. Eles se dividiram entre as quatro mesas, e Dumbledore retomou a palavra.

- Agora, vamos as regras. Aqueles de vocês que desejarem participar do Torneio devem escrever seus nomes em um papel, junto com o de sua escola, e colocar no calice de fogo – ele apontou para uma grande taça dourada, colocada no centro do palco onde sentavam os professores – Resolvemos permitir que os escolhidos tenham um tutor, para auxiliá-los durante a preparação para as provas. Qualquer um pode se inscrever, mas serão necessários conhecimento e magia para poder vencer e sobreviver às três tarefas que lhes serão impostos, então peço que pensem muito bem antes de se decidirem. O cálice ficará aberto até a metade de Novembro. Então boa sorte e bom apetite!

Ao terminar, todos os pratos apareceram nas mesas. Os alunos passaram a deliciar-se com tortinhas de abóbora, cerveja amanteigada e alguns pratos estrangeiros, devido a presença das outras escolas no prédio.

- Jen... Você já ouviu histórias sobre esses torneios, não é? – Kibble perguntou, interessado.

- Ouvi, sim. E seria um tolo aquele que se inscrever sem pensar muito bem e sem estar, pelo menos, no sexto ano. – ela tomou um copo cheio de suco abóbora.

- Você vai? Se inscrever? – Symons perguntou.

- Vou pensar. Decido até o fim da próxima semana. – seu olhar encontrou com o de Luke, que parecia mais sério que o normal.

Pouco depois, Jennifer levantou com João para ir ao dormitório. Ao se aproximar das escadas, encontraram um aluno de Durmstrang. Alto, com musculatura forte, nariz torto, curtos cabelos loiros e olhos azuis. Sorriu para Jennifer e fez uma reverência, a qual ela respondeu sem graça.

- Diga-me, senhorita, se não gostaria de aparecer em nosso navio para uma festinha de Halloween particular? Pode levar seu namorado, se desejar.

- Ah.. eu... – Jennifer corou, sem palavras.

- Eu não sou namorado dela... E vou indo. Até mais, Jen. – João deu um empurrãozinho na amiga, subindo as escadas rapidamente.

- Jen, assim é seu nome?

- Jennifer. Jennifer Skole...E você?

- Clov Tanz. Prazer enorme em conhecê-la.

- O prazer é meu. – ela sorriu – Então... você falava de uma festa?

- Espero que não esteja considerando ir, Srta. Skole. Sabe que não pode andar pelo castelo depois das 10, e já são nove e meia. – Luke disse, subindo as escadas.

- Vocês têm essas regras tolas de horário aqui em Hogwarts? – Clov perguntou a Luke.

- Aqui não é tão seguro quanto em Durmstrang, e nem tão pequeno. – Luke replicou – Boa noite.

- Ele tem razão. Fica para uma próxima, Clov. – Jen sorriu, seguindo o professor escada acima.

O garoto ficou parado, observando-a. Resolveu segui-la, só para ver onde ficava sua casa.

- Escuta Jenny... – Luke sussurrou – Você disse de letras a mais. Como assim?

- Ela estava... Incompleta. – Jen mostrou-lhe – Vê? Nós encontramos S-A-F-E. Faltava T-Y.

- Mas tem as mesmas funções? – ele girou o braço da moça, observando todas as letras.

- Agora ela tem função. Antes não tinha. – ela tirou o braço de perto mais uma vez – Boa noite, professor.

Clov encostou-se na parede, sorrindo.

Como o Halloween tinha sido na quarta, o dia seguinte era de tempo duplo de defesa contra as artes das trevas no começo do dia. Os alunos de Durmstrang e Beauxbatons se misturariam às aulas dos alunos da casa. Ao chegar na sala do terceiro andar, Jennifer percebeu que metade da turma da primeira estava lá, inclusive Clov, que sorriu e apontou para o lugar a seu lado. Ela hesitou, mas João a obrigou a sentar lá.

- Bom dia, Jennifer... Nenhum problema ontem, acredito? – ele disse.

- Pode me chamar de Jen. – sorriu – Não, tudo certo...

Luke então pigarreou e começou a aula. Sugeriu que eles se dividissem em duplas com os alunos da outra escola para aprenderem a lidar com pessoas diferentes e duelassem sem falar.

Jennifer começou a duelar com Clov. Ele não era muito rápido, e ela o desarmou várias vezes rapidamente.

- Durmstrang não ensina feitiços? – ela perguntou, irônica.

- Imagino que aqui não exista cavalheirismo, se você não o percebe... – piscou.

- É bom parar... Ou sua imagem vai ficar prejudicada. – desarmou-o novamente.

Então ele começou a agir naturalmente, e na verdade era muito bom. O duelo deles durou mais tempo que o planejado, seus movimentos pareciam clonados. Luke se aproximou sério, o que fez Jen perder a concentração por um segundo e ser desarmada. Era a primeira vez que perdia para alguém.

“Desculpe quebrar o clima, mas...”- Aula encerrada. Podem guardar suas coisas e arrumar as cadeiras. – disse, ríspido.

- Então, Jen. Vai se inscrever? – Clov perguntou, devolvendo algumas mesas para o lugar.

- Ainda não sei. – ela sorriu – Muitas variáveis a considerar. Pode ser extremamente perigoso... – olhou de soslaio para Luke.

- Pense bem. Te vejo mais tarde! – Clov saiu com um grupo de amigos, rapidamente.

“Que tipo de moleque mais arrogante...”, Jennifer ouviu. Um raio de esperança passou pela sua cabeça.

“Ciúmes, Lu?”, sussurrou, guardando os livros na bolsa.

“Indiferença. Não me faz a menor diferença com quem você sai ou não.”

Ela o assistiu sair da sala, batendo a porta atrás de si. Engoliu em seco, descendo para o Salão Principal. Sentou-se com João, que tentou animá-la de alguma forma, sem muito sucesso. Desceram para as masmorras, sentando-se ao lado de seus caldeirões.

- Boa tarde, turma. Hoje é o último dia para mexerem em suas poções, e na próxima aula a testaremos. Como temos um período duplo, não tem como vocês aprontarem alguma coisa sendo seus colegas de bancada. Quero também dizer que aconselho a todos vocês tentar participar do Torneio Tribruxo... E acolherei alegremente aquele que for o escolhido.

- Ou A escolhida. – Disse Lety Plise, da grifinória.

- Sim, claro, Plensy, ou a escolhida. Agora vamos. E depois quero que preparem o antídoto da página 72, contra venenos ultra-rápidos.

- Jen...Não faça as coisas sem pensar... – João sussurrou, percebendo o olhar da amiga.

- Não faria diferença alguma, João... E talvez eu prove a mim mesma que sou mais do que acredito. – ela respondeu, abaixando o fogo de sua poção polissuco e pegando os outros ingredientes.

- Pra mim faz. – suspirou – Mas a escolha é completamente sua.

Após essa aula e a de aritmancia em seguida, a carga de lição de casa quase dobrou, e Jennifer foi à biblioteca. Lá sentou e ficou estudando até a hora de recolher, sem perceber que alguém a estava observando.

Quase uma semana depois, Jennifer realmente decidiu se inscrever. Acordou bem cedo, de forma que ninguém fosse estar no salão principal, onde o cálice estava. Colocou então seu nome, e assistiu enquanto as chamas o consumiam.

Sentou-se a mesa e esperou por seus colegas. João logo adivinhou porque ela chegou cedo.

- Resolveu então?

- Resolvi. Veremos sexta se vai dar ou não. – sorriu. – E você?

- Bom... Não, não tive coragem. Mary colocou.

- Muitos colocaram. Até uns bobinhos do primeiro ano. – Kibble disse, sentando. – Espero que não sejam escolhidos.

- Pois deviam, só pra aprender a ser mais espertos. – Symons comentou, mordendo uma maçã.

- Não seja cruel.- Jen riu.

- Cruel vão ser as tarefas. Não quero nem pensar no que você está se metendo, Jen. – Kibble comentou.

- Não estou metida em nada. Nem fui sorteada. – deu de ombros.

- Vamos lá... temos aula...- João disse.

A essa altura, Jennifer já lançava fogo e água em vários modos diferentes sem prestar muita atenção – o que levava Flitwick a loucura, rendendo muitos pontos à Corvinal. Em transfiguração, ela só não conseguia transformar a parte do encosto. A poção polissuco funcionara perfeitamente, assim como a de João, então eles trocaram de personalidade durante as aulas e se divertiram muito.

Todos os seus professores desejavam-na boa sorte durante o período de aulas, mas ela não contara a Luke que se inscrevera. Conseguiria manter as coisas assim até o fim da semana, no dia que o Cálice decidiria. Todos sentaram-se no Salão principal, tensos. Dumbledore logo tomou a palavra:

- Alunos e alunas. Hoje o Cálice decidirá. Lembrem-se que não há volta após o sorteio, e que estarão sozinhos exceto pelo tutor designado. Ao vencedor aguarda a Glória Eterna, e um prêmio de mil galeões. Aguardemos, então.

O silêncio dominou o salão. Era possível sentir a ansiedade de todos, que aumentou ainda mais quando a chama do cálice tornou-se verde, e subiu alta, soltando um pedaço de pergaminho. Dumbledore teve de correr para pegá-lo, pigarreou e leu:

- Clov Tanz, Durmstrang! Por favor, siga o seu diretor à sala de troféus.

Muitas palmas, alguns urros de decepção. Clov seguiu sorrindo para a sala apontada, piscando para Jen no caminho.

Logo, o cálice ficou verde novamente e expeliu um outro papel.

- Pierre Auger, de Beauxbatons.

Um garoto bem pequeno, magricela, de cabelos longos acizentados recebeu muitos aplausos dos colegas. Devia ser bastante popular na escola, Jennifer pensou. Agora só faltava o campeão de Hogwarts, e todos aguardavam ansiosos.

Quando o cálice esverdeou pela terceira vez, Dumbledore logo anunciou:

- Jennifer Skole, de Hogwarts.

Ao invés de levantar, ela empalideceu. Tinha certeza que não seria escolhida. João empurrou-a com força para que ela levantasse, e ela seguiu para a sala. Ouviu aplausos, comentários maldosos, viu o olhar de aprovação de seus professores e correu para dentro da sala de troféus. O prof. Dumbledore não demorou para segui-la, e lá estavam os três diretores com os três campeões, e um jornalista do profeta diário, que a apressou para tirar uma foto.

- Então, Jen... Juntos novamente. – Clov sorriu.

- Em tese, somos rivais. Pelo menos no Torneio. – ela disse, corando.

- Mas podemos ser amigos e ter boa convivência. – Pierre interrompeu.

- É esse o plano, crianças. – Dumbledore interrompeu, sorrindo – Agora, as regras. Vocês podem pedir ajuda de seus tutores, e de mais ninguém. Podem continuar assistindo às aulas, mas estarão isentos dos exames e deveres de casa. A primeira prova se dará na primeira semana de dezembro. Srta Skole, a primeira reunião com seu tutor será amanhã, às oito, no salão principal.

Os três campeões saíram e foram para suas respectivas comemorações.

Na corvinal todo o estoque de cerveja amanteigada e doces comprados em conjunto na Dedosdemel foram gastos, e a comemoração seguiu até altas horas.

domingo, 14 de novembro de 2010

2

Jennifer olhava para fora da janela. Atrás de si, podia ouvir as comemorações de amigos se reencontrando após os meses de verão, baralhos de Snap explosivo, somente risos e vozes felizes... Havia também algumas vozes preocupadas, sussurrando sobre desaparecimentos estranhos e visões de homens encapuzados andando por aí... Mas nada disso importava.

Secou uma lágrima que escapava do olho. De tantos alunos recém-formados, porque Dumbledore contratara Luke? Justo Luke? Sabia que ele era esperto e que sabia de tudo que acontecia na escola – logo, devia saber que eles namoraram por anos, até ele desaparecer depois de se formar. Ela ficara meses quieta, triste, até encontrar uma nova ocupação, que foi o cargo de monitora que recebeu em seu quinto ano.

Suspirou ao ouvir o som dos passos de João se aproximando.

- Não precisa se preocupar. Logo vou dormir.

- Mas Jen, se você não falar comigo, vai falar com quem? – ele disse, sentando-se ao lado.

- Não tem o que falar, João. Ele voltou, ele é professor, tenho quatro tempos de Defesa Contra as Artes das Trevas durante a semana, mais nada. É só o que eu preciso agüentar. – Jen levantou.

- Conte comigo pra qualquer coisa. – João sorriu.

Jennifer acenou com a cabeça, e foi para seu quarto. Demorou para dormir, revirando-se enquanto pensava se o mesmo acontecia com Luke.

Jennifer acordou atrasada no dia seguinte, e na pressa prendeu seus longos cabelos em um coque desajeitado, correndo para o Salão Principal para conseguir o café da manhã. Encontrou João já lá, e sentou-se ao lado.

- Bom dia. Horários – ele passou-lhe uma folha.

Ela só se deu ao trabalho de olhar o período do dia: Herbologia, Feitiços e dupla de poções. Ótimo. Não teria que se deparar com Luke já no primeiro dia. Bocejou abertamente, tomou logo seu café e seguiu com o amigo para as estufas.

No caminho, encontraram Kibble e Symons, que logo se juntaram a eles.

- Puxa, Jen... Que barra... – Kibble sussurrou.

- Não quero falar disso, Kib. – Jen sorriu – Vamos curtir o verde, por enquanto.

Ainda que ela pudesse ter ouvido o outro sussurro de “coitada...” do colega, fingiu não fazê-lo. Não ia sentir pena de si mesma – já havia superado tudo isso há um ano.

Ao entrar nas estufas pôde sentir o cheiro forte de fertilizantes e plantas. Pontual, a profª Pomona Sprout logo entrou e começou a explicar como criar e cuidar de um Visgo-do-diabo, de forma que ela não devorasse a todos os moradores da casa, através de continua exposição à luz do sol quando ele se irritasse. Após alguns sucessos de vários alunos, e da captura de alguns outros, a aula terminou e todos voltaram sujos de terra para o castelo, correndo.

Feitiços foi mais interessante. O professor Flitwick foi um dos primeiros mestiços contratados em Hogwarts, sendo metade duende. Disse que como estavam no último ano, deviam se preocupar em criar matérias básicas de forma prática, de forma que os ensinaria a conjugar fogo, água, ar e terra a partir do nada, começando pelo primeiro. Symons foi o primeiro a ganhar uma detenção após acidentalmente colocar fogo em alguns exemplares dos livros do professor, que ficou bastante frustrado com o desempenho de seus alunos.

Jennifer, João, Symons e Kibble sentaram-se juntos no almoço, exaustos. Symons ainda tinha algumas marcas de queimadura, e Jennifer tentava tirar os restos de terra de suas mangas. Enquanto o fazia, acreditou ter ouvido uma risada conhecida, e ao observar ao redor pôde ver Luke olhando para ela e, de fato, ria. Ao perceber seu olhar, mudou de direção, voltando a seriedade que demonstrara no dia anterior.

- Estou exausta...e ainda temos dois tempos de poções... Slughorn vai com certeza acabar conosco...

- Você diz isso porque ele não gosta de você. – Symons disse – Eu acho a aula dele muito agradável, mesmo não sendo daquele grupinho dele.

- Ninguém se importa com o clube pessoal de troféus dele. – João replicou – O problema será a carga de dever de casa. Sabe como ele é fissurado por exames como os NIEMs...

“Nada com o que se preocupar, só mais uma prova igual a tantas outras...” Jen olhou em volta, mas não encontrou o dono de comentário tão pertinente.

- Veremos. Primeiro vamos comer... – Kibble interrompeu, abocanhando um grande pedaço de frango.

Todos então almoçaram, aproveitando para comer bastante sobremesa. Seguiram então para as masmorras, desconsiderando alguns comentários de sonserinos pelo caminho. João tinha particularmente um problema com um dos alunos, Stuffen, pois ambos eram apaixonados pela mesma garota: Mary. Mas Stuffen sempre fora rejeitado pela moça, que sempre flertava com João, o que aumentava os desentendimentos.

Entraram na sala fria, sentaram-se e aguardaram. Slughron logo entrou, levemente acima do peso, com seu bigode de morsa bem aparado e com faixas de branco.

- Boa tarde, turma. Devo dizer-lhes que esse é o ano mais puxado que vocês terão, devido aos NIEMs. E para começar dando uma idéia do que os aguarda, sugiro que abram na página 43 de seu livro e tentem preparar a Poção Polissuco. – houve um grande murmúrio entre os alunos – Não, vocês não poderão levar a poção embora ou tomá-la para saber como é. Sabem bem que é proibida. Mas como é uma poção que demora cerca de um mês para ficar completamente preparada, quero que percebam quais cuidados deve-se tomar.

- Professor...Não temos alguns dos ingredientes. – Jen levantou a mão e disse.

- Vocês podem pegar os faltantes da minha despensa, Srta. Skole. – Slughorn respondeu, ríspido. – Agora, vamos lá, comecem! – bateu palmas, animado.

O professor já havia deixado os hemeróbios prontos, então o que restava era misturar o resto dos ingredientes de forma a manter as proporções corretas. A maior dificuldade de Jennifer foi retirar os dentes das sanguessugas, mas fora isso não teve problemas.

No final do segundo tempo, Slughorn foi passando de mesa em mesa para observar o resultado.

- WIlsby, não era para ela estar azul... Siqueira, parece só um pouco mais molhada do que devia. Acho que colocou pouco pó de chifre de bicórnio, o seu era muito pequeno? Bom trabalho Srta. Skole, parece perfeita. Não esqueça de abaixar a temperatura do fogo antes de sair. Nos vemos na próxima aula, alunos, e não deixem de ler quais mudanças deverão fazer na poção na próxima aula! Ou refazê-la, para alguns... – ele disse, virando uma das colheres praticamente líquidas, de Kibble.

Jennifer ainda pôde ouvir os sussurros frustrados do professor por um tempo, mas ao entrar no salão principal ele se misturava ao barulho dos outros alunos. Soube assim que vários já haviam sido detidos por falhas grandiosas durante as aulas e muitos reclamavam de pontos tirados. Começou a observar as ampulhetas, e reparou que a Grifinória havia ganho muitos pontos, e a Sonserina parecia ter perdido tudo o que ganhou. Corvinal e Lufa-Lufa estavam com praticamente o mesmo nível de pedrinhas, o que a fez sorrir – até esbarrar em alguém.

- Desculpe, estava distraída...

- Tudo bem, Jenny... Digo, Srta. Skole.

- Ah... Luke... Professor... – ela foi abaixando a voz e a cabeça à medida que corava – senhor professor... – sua voz era um murmúrio.

- Não precisa exagerar nas formalidades. – ele sorriu – e nem falar tão baixo... – ele sussurrou.

Ela anuiu, falando mais para si mesma “Vou tentar lembrar”.

- Se esquecer, tudo bem. Procure olhar pra frente, fica mais fácil enxergar as pessoas em geral...

E saiu andando. Jennifer o assistiu se dirigindo à mesa dos professores, chocada por ele ainda usar o feitiço que inventara quatro anos antes. Pois ele foi o primeiro que soube de seu segredo, e imediatamente quis fazer algo para compartilhá-lo, de forma que eles pudessem se comunicar sem mais ninguém saber... Foi cerca de um ano de trabalho, mas funcionara. E ele ainda o usava.

Ela sentou ao lado de João, muda. Ele contava de parte de suas férias para os gêmeos, então não percebeu nada até voltarem ao salão comunal. Os quatro chegaram à águia da porta de suas casas, que logo declarou:

- Hoje é dia de charada! Sou uma caixa, sem tampa nem cadeado, dentro escondo um tesouro dourado. Quem sou eu?

- Um ovo... – Jen respondeu, entediada. – O Hobbit, gente... – adicionou após ver a expressão dos colegas.

- Você realmente devia descansar nas férias, Jen... – Symons riu, entrando.

Jennifer riu, dando-lhe um soco no braço. Sentou-se então embaixo da janela, lendo seu livro de poções, sem, no entanto prestar muita atenção. Tomara que eu me acostume logo...

Após outra noite longa sem conseguir dormir bem, Jennifer acordou cedo, descendo sozinha para tomar café da manhã. Ao chegar no salão principal, resolveu olhar o horário do dia. Período vago, transformações, herbologia e aritmancia. Dia excelente!

Dirigiu-se logo para a biblioteca, onde ficou durante toda a manhã escrevendo revisões das mudanças que teria de fazer em sua poção polissuco, seu relatório parcial do visgo do diabo (que deveria ser terminado naquele dia) e relendo o capitulo de feitiços naturais.

Depois seguiu para o primeiro andar, para sua aula favorita com – na sua opinião – a melhor professora de Hogwarts: McGonagall. Foi a primeira a chegar, ganhando um sorriso de aprovação da mesma.

Sentou-se na primeira fileira, ao centro, e logo o resto da turma chegou. João sentou a seu lado, parecendo cansado: tinha Trato das Criaturas Mágicas pela manhã.

- Bom dia, classe. Aprenderemos nesse primeiro trimestre transfiguração em seres humanos. Começaremos com transfigurar-se em mobília, de forma a se esconder rapidamente quando possivelmente atacados. Começaremos com uma poltrona, que é o modelo mais simples...

Ela acenou para a lousa, onde apareceram as instruções e mandou que todos formassem duplas. A cada dia um tentaria transfigurar o outro, e não era esperado que tivessem sucesso nas primeiras tentativas. Jennifer se concentrou bastante, mas o máximo que conseguiu foi transformar os braços de João em braços de poltrona marrom-listrados, o que foi bem mais que o resto da turma.

- Talvez você devesse ficar com eles... Você parece bem mais confortável assim. – Jen riu.

- Espera só até eu te acertar, para você ver!

Os dois riram e a garota fez seus braços voltarem. Seguiram juntos para o almoço, e lembraram de guardar algumas sobras de seus legumes como a profª Sprout requisitara.

A aula foi como a do dia anterior, cuidando para que o Visgo não atacasse ninguém, mas continuasse crescendo. O dos dois já estava da altura de Jennifer, o que exigia um feitiço para cercá-lo de forma que não saísse do canteiro reservado à ele.

Ela se despediu de João, subindo as escadas correndo. Então entrou em um atalho que sabia dar no sétimo andar, encontrando alguém no caminho.

- Assim parece que está me perseguindo, Srta. Skole.

- O senhor está no meu atalho, prof. Veig. Preciso chegar ao sétimo andar rápido. – Jen desviou, subindo depressa.

“Nosso atalho...” ela ouviu, o que a fez andar ainda mais depressa.

Chegou a classe de aritmancia em cima da hora, mas a professora Vector não pareceu se importar. Afinal, havia quatro alunos na aula e um fazia muita diferença. Foi a maior carga de trabalho que Jennifer recebera até ali, e ficou imaginando quanto tempo demoraria para fazê-la em seu caminho para o Salão Principal.

Jen chegou atrasada em feitiços no dia seguinte, e perdeu 10 pontos da Corvinal por isso. Alcançou a matéria logo, entretanto, visto que tinha praticado durante parte da noite anterior.

Suspirou ao soar do sinal. De repente parecia carregar 100 quilos de livros nas costas e suas pernas se recusavam a subir as escadas. João deu-lhe um tapinha nas costas, e entraram juntos.

A sala continuava a mesma, mas as carteiras estavam todas encostadas nas paredes, deixando um amplo espaço ao centro, na frente da mesa do professor. Vários alunos já estavam ali, e Luke estava sentado sobre a mesa, esperando. Gesticulou para que eles se aproximassem mais e então começou a falar:

- Bom dia classe. A minha idéia do curso de Defesa Contra as Artes das Trevas é, basicamente, se defender contra as artes das trevas. Como vocês já estarão se formando, quero que todos saibam os feitiços básicos de defesa e ataque muito bem, para podermos avançar. Para isso, preciso saber como se portam, então gostaria que se dividissem em duplas para que eu possa vê-los em ação. Sigam a lista que está no quadro, e nada pior que isso. – seus olhos relampejaram por um grupo de sonserinos – Depois de vê-los, provavelmente após o almoço, já poderei passar o plano das aulas. Podem começar.

Jennifer imediatamente puxou João para o outro extremo da sala, e o amigo riu. Não era muito justo, pois já haviam tido muito tempo para praticar durante todos os anos de amizade. Logo era possível ouvir gritos de feitiços por todos os lados, de todos os tipos. Muitos deles já possuíam domínio sobre a listagem do quadro-negro. Quando Luke passou perto de Jen, ela imediatamente ficou tensa e errou João por quase um metro. Ele balançou a cabeça, mas a garota pôde vê-lo rindo.

Após mais ou menos uma hora de gritos, e baques de pessoas caindo, o professor assobiou e todos pararam onde estavam.

- Certo. Agora, suponho que o professor do ano passado os ensinou a lançar feitiços sem pronunciá-los. – apontou para a lousa, e metade da lista de feitiços apagou-se – Quero ver como se saem.

João sorriu encorajadoramente para Jennifer. Sabia que ela não gostava disso, pois tinha dificuldades em se concentrar, já que ouviria todos os outros tentando enganar o professor sussurrando seus feitiços muito baixo. No entanto, conseguiu executar a lista perfeitamente, já que Luke passou perto deles na vez de João atacar.

- Nada de sussurrar. Eu escuto vocês, não importa quão baixo vocês digam...

Jen podia jurar que após dizer isso ele piscou para ela. Mas balançou a cabeça, e distraidamente se concentrou demais no feitiço Reducto, e a prateleira atrás de João virou pó. A maior parte dos alunos parou o que estava fazendo e observaram-na boquiabertos.

- Esse feitiço não está na lista, Srta. Skoles. E eu disse nada tão violento. Detenção na sexta.

- Detenção? Mas ele estava na lista antes! Eu só... confundi. – ela se arrependeu na hora.

- Oito horas, aqui mesmo. Estão dispensados, até depois do almoço.

Jennifer saiu da sala furiosa consigo mesma. Almoçou rápido, frustrada, e logo voltou para a sala com seus colegas. Ao entrar, as mesas já estavam todas em seus respectivos lugares, e o professor os esperava, sorrindo.

- Certo. Vocês não estão nada mal. Mas acredito que precisam de melhoras nos feitiços não ditos, então hoje darei um repasse teórico de como executá-los, e na próxima aula retomaremos a prática.

Luke falou durante toda a aula, até o sinal tocar e os alunos saírem.

Os outros dois dias de aula pareceram voar para Jennifer, só porque ela não queria que sexta-feira chegasse. Conseguiu terminar a carga de dever de aritmancia, mas não conseguira praticar nenhum dos feitiços mudos que Luke mandara. Também não se sentia culpada por isso, já que ele mesmo tomara o tempo que usaria para tanto.

Pouco antes das oito pendurou sua corrente no pescoço, de forma a se sentir mais segura, prendeu o cabelo em um rabo mal feito, e desceu para o terceiro andar. Suspirou longamente, e então bateu a porta.

- Entre, Srta. Skole.

- Com licença, professor. – ela entrou, deixando a porta aberta atrás de si.

- E então? – Luke estava sentado em sua cadeira atrás da mesa, lendo um grosso livro de feitiços.

- E então o que? Detenção, lembra? Oito horas, sexta?

- A Srta. Não deveria falar assim comigo. Sou seu professor, afinal. Sente-se. – apontou uma cadeira.

“às vezes fica difícil de lembrar...”, ela sussurrou, e sentou.

“Mas é bom acostumar.”, ouviu-o.

- Gostaria que escrevesse 50 linhas de “Não devo desobedecer ordens explícitas”. Pode começar.

“Como se alguma vez nós tivéssemos seguido alguma...”, resmungou baixinho, começando seu trabalho.

“Como foram as coisas nesses últimos anos?”

Jennifer olhou para ele, só para ter certeza. Este, por sua vez, mantinha seus olhos fixos no livro, como se fosse a única coisa da sala. Balançou a cabeça, e acelerou a escrita.

“Alguma coisa mudou?”, Luke sussurrou de novo.

“Há dois anos entrei para o quadribol. Artilheira.”. Só mais 45 linhas...

“NOMs?”

“Ótimo em todos, exceto poções que foi Excede Expectativas.” 40..

“Namorado?”

- Não te interessa. – ela olhou para ele, irritada, sem parar de escrever.

“João?”

“Excelente. Talvez finalmente consiga sair com a Mary.”, começou a se apressar mais.

“Imaginei que já estivessem namorando agora.”

“Considere um brinde o fato contrário depois de você sumir.”

“O que tem a ver?”, a voz dele tremeu um pouco.

Jennifer não respondeu, e ele não voltou a falar. Ao terminar, entregou as notas e se dirigiu para a porta. Lá, parou, sussurrando “Como você pôde, sem ao menos uma carta?”, e saiu.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

3

Obs: Editado, 11/12/2010

John acordou sozinho no dia seguinte, sem certeza do por que. Olhou em volta: Susan não estava lá. Mas havia som de água caindo no banheiro... Devia estar tomando banho. Ele se sentou, e apalpou seu pescoço dolorido. Então se lembrou do fim da noite anterior.

Achara que tinha conseguido se dar bem, pelo menos por alguns minutos... Quando ela desmaiou durante o beijo. Ele a segurara e tentara acordá-la. Como não obtivera resposta, carregara-a até a cama e a repousara lá. Banhara-se, e ao voltar para o quarto ela estava de lado, com as costas sujas de sangue à mostra. John realmente era médico, apesar de ter usado a história só para impressionar Susan, e ele sempre levava material de sutura e primeiros socorros básicos. Como ela dormia pesadamente, imaginara que não sentiria a sutura – e não se enganara, aparentemente. Nem se movera enquanto costurava o longo corte, que vinha desde a base do pescoço até o meio das costas, no mesmo nível que seus longos cabelos.

Ele não pôde deixar de ficar a observá-la por um tempo, antes de dormir no canto que criara para si: Pegara o cobertor reserva do guarda-roupa e um travesseiro, e apagara imediatamente. Pensando bem, talvez houvesse algum tipo de sedativo naquela agulha... Ou ele realmente estava cansado.

Levantou-se, e trocou-se. Ao abrir a janela observou um dia ensolarado, com algumas nuvens de chuva ao longe. Suspirou. Trouxera só o suficiente para o final de semana, pois planejara embarcar para a Austrália naquele mesmo dia.Algumas horas antes. Riu. Agora ele estava metido em uma encrenca maior do que Susan podia imaginar...

Ouviu um som desagradável do banheiro. Tentou abrir a porta, mas estava trancada. Falou então:

- Está tudo bem aí?

- As costas sim. O pescoço arde. Preciso de alguma coisa pra vestir...

- Como o que?

- Qualquer coisa, John. Não tenho muita escolha.

John procurou as coisas mais justas que ele tinha, e bateu na porta. Susan abriu e fechou-a com a mesma rapidez, aparecendo vestida não muito depois. Ele tentou controlar, mas acabou rindo, o que o fez tomar um soco no braço.

- Agora aos negócios. Você disse que acabaria o negócio hoje?

- Tinha até quinta. Suponho que estejamos bem até lá.

- Só até eles me virem acompanhada. Aí eles terão duas opções: matar você ou me pegar quando estiver sozinha. – Susan suspirou.

- Você não vai ficar sozinha. E eles não conseguiriam me pegar. – John deu de ombros. – Planos?

- Preciso passar em casa. De preferência sem sermos seguidos.

- Ok... – John pegou um chapéu e passou para ela – Façamos o seguinte. Você sai pela escada de emergência, e me encontra no estacionamento 24 hora na próxima esquina. Eu fecho a conta e te encontro lá em quinze minutos. Certo?

- Como vou saber que você não vai me dar o cano, e armar algum outro plano? – ela perguntou, seca.

- Do mesmo jeito que eu não sei que você não vai sair correndo e ligar para alguém contando do meu paradeiro. – ele retrucou, ríspido – Agora, vamos logo.

Susan bufou, saindo pela janela em seguida. John seguiu para a recepção para pagar a diária, observando bem as poucas pessoas ao redor. Só havia uma senhora de idade e o jovem carregador. Ninguém parecia suspeito. Seguiu pela rua cuidadosamente, observando todas as pessoas com quem cruzava, mantendo o passo rápido.

Ao entrar no estacionamento não pôde deixar de ficar feliz ao ver Susan sentada em sua moto, com as mangas da camisa erguidas e o cabelo totalmente escondido pelo chapéu. Ela sorriu ao colocar o capacete enquanto falava

- 29 com a sexta.

John se sentiu estúpido. Claro que ela não deixaria um estranho levá-la para casa no primeiro encontro, e ele foi tapeado. Culpou a própria arrogância e seguiu o caminho em silêncio.

Na verdade a jornalista morava em um bairro de classe média, com todas as casas basicamente iguais. Ao aproximar-se de uma delas, com muitas flores no exterior, Susan fez sinal para que parassem. Era uma bela casa, e ao entrar não foi diferente. Seguiram para o segundo andar.

A casa tinha todas as paredes brancas, com alguns quadros de quebra-cabeça nas paredes. Os móveis eram simples, de madeira, e o único luxo era uma grande TV sobre a estante de madeira próxima da porta. A cozinha era aberta para a sala, também toda branca. Ao entrar no quarto da moça, no entanto, o cenário era outro: os móveis eram de mogno, com as paredes cobertas de matérias. John pôde ver que a maioria era de autoria da própria Susan, e observou algumas estranhas logo atrás da porta, das quais uma se destacou:

"Morte estranha em pequeno hotel da cidade

Nessa manhã de sexta-feira foi encontrado um corpo em um banheiro do hotel Compris. O corpo é de um homem, com mais ou menos 30 anos, encostado no canto de um box, aparentemente resultado de um suicídio. Mas não foi preciso muita investigação para perceber que no colarinho da camisa, nada discreto, tinha uma mancha de batom vermelho, o que só pode provar que alguém esteve ali com ele - e era uma mulher.

Este é o segundo assassinato esta semana, com as mesmas características. O outro aconteceu na sexta-feira da semana anterior, desta vez com um homem de mais de 40 anos. Ninguém sabe o real motivo destes assassinatos, e a polícia não está se preocupando em procurar o culpado. Isso porque algumas pessoas reconheceram os dois corpos como sendo de dois matadores de aluguel, muito conhecidos da Flórida. Assim que obtivermos mais informações, publicaremos no nosso jornal."

Assim soube como fora desmascarado. Ela pesquisava assassinatos. Típico de quem quer ser morto, pensou. Sobre a escrivaninha havia uma série de artigos marcados: “Não se sabe nada do assassino, exceto que é um homem”...”A camareira que passou perto do quarto ouviu sons abafados e barulho de beijos, acreditara ser só um casal comum”...”Análises de sangue demonstram a presença de anti-depressivos, mas a forma que a bala estava dentro do abdômen torna a cena suspeita”...

- Você é muito óbvio pra quem já te espera. Só precisava ter certeza. – Susan disse, do meio de seu guarda-roupas gigantesco.

- E como sabia ser eu a partir dessas características?

- Juntei alguns fatos. Você é homem, atraente, tinha várias opções de mulheres com quem se sentar. Mentia perfeitamente, e com o olhar tentava encontrar qualquer fraqueza emocional que eu pudesse ter... E o lance de me chamar para um hotel que serve massas também ajudou.

- Você faz parecer simples. – John bufou, sentando. – Como ligou todas essas matérias a mim?

- Mesmo tipo de crime, de cenários, e de vítimas. E eu fiz a última. Reconheci seu cheiro ao andar na moto.

- Devo parar de usar perfume, então. E de escolher só mulheres para matar. Mais alguma dica? – disse, irônico.

- Sim. Mude de profissão. – Susan jogou as roupas emprestadas sobre o assassino, dirigindo-se para a sala.

- E então? O que fazemos agora?

- Aguardamos. É muito cedo para sairmos.

Ele concordou, recostando-se sobre a parede enquanto observava Susan sentada no sofá, assistindo à TV. Ao ouvir a campainha tocar assustou-se, sacando sua faca instantaneamente.

- Não seja ridículo, guarde isso. – ela disse impaciente, abrindo a porta em seguida. – Bom dia, Marta.

- Bom dia, Susie querida. Fiquei preocupada quando não te ouvi chegando ontem! Vim ver se você está bem e te convidar para almoçar.

- Ah, obrigada, muito atencioso da sua parte. – sorriu – Digamos que tive uma noite muito proveitosa. – apontou para John com a cabeça.

Marta então entrou. Era uma senhora muito baixa, toda enrugada, com grossos óculos que deixavam seus olhos castanhos grandes e muito abertos. Olhou John de cima a baixo, o que o deixou levemente constrangido, sorrindo para ela.

- Você tem bom gosto, Susie... Lembra meu primeiro encontro. Venha almoçar também, então. Como disse se chamar?

- Julian, dona Marta. Muito prazer. – sorriu.

- Certo. Vamos descer então!