quarta-feira, 23 de março de 2011

8

John não demorou muito para encontrar a loja de aluguel de roupas. Entregou ambas e deixou uma boa gorjeta para a atendente, que sorriu-lhe e passou-lhe seu número de telefone. Ele riu. Não conseguia evitar de exercer seu ofício, aparentemente. Olhou para o relógio. Quinze para meio-dia. Apressou-se para chegar ao restaurante, receoso por ter deixado Susan desprotegida no hotel.

Ao chegar lá, fez seu pedido usual e sentou-se para esperar. Meio dia e dez. Até meio dia e meia ele sairia. No entanto, a comida demorou para chegar.

Meio dia e meia. Ele chamou um garçom para reclamar, mas sem sucesso. Uma hora. Levantou-se e seguiu para a porta, mas a recepcionista não o deixou sair. Bufou, e tornou a sentar, preocupado.

Uma e meia. John dirigia-se para a gerência quando viu Susan entrando, de óculos escuros, jeans e camiseta. Suspirou aliviado, e seguiu para ela.

- Desculpe a demora, mas o pedido não chega e já faz uma hora...

- Relaxe, J... – ela sentou, colocando o cabelo para trás – A idéia original era vir aqui de qualquer forma. Temos que nos mover, sugiro ir para algum lugar no interior.

- No interior? E por quê? – John perguntou, desconfiado.

- Não leu nenhum dos artigos que eu te passei? – ele percebeu que ela tremia levemente – Um dos pontos de venda dos produtos roubados de Walter fica há umas duas horas daqui. Acho que é um bom lugar para procurá-lo.

- Certo. E é melhor tirar os óculos para comer, Susie. – sorriu.

Susan tirou os óculos quando o almoço chegou, e John não pôde deixar de notar que estavam vermelhos.

- Você... Esteve chorando?

- Não seja absurdo. Acho que não dormi direito. – replicou, ríspida.

- Não estava assim de manhã.

- O que isso importa, de qualquer forma? Estou com fome.

Os dois passaram o resto do almoço em silêncio e seguiram para o estacionamento como se não estivessem juntos. John parou próximo a uma banca, e comprou o jornal para onde Susan escrevia após ler a manchete:

Novo ponto de depósito de drogas desmascarado, por Susan Roth”

Seguia-se então um texto sobre a apreensão de muitos produtos contrabandeados e drogas no prédio onde ele deixara Susan após seus encontros, alguns dias atrás. Sentiu-se burro. Ele foi a cobertura perfeita para ela. O que mais ela tramava agora? Estaria usando-o de novo?

Chegou em sua moto pronto para gritar com a jornalista, mas a visão dela sobre sua moto, olhando para o nada com os óculos escuros, e como seu corpo se ajustava com as curvas da moto o fez dizer fracamente:

- Então você me usou?

- Oi? – Susan viu o jornal – Bom, nada mais justo.

- O que quer dizer com isso? – ele retrucou.

- O óbvio. Você ia me usar. Eu usei você. Precisava de algum jeito de me aproximar do prédio sem atrair atenção, e você foi o jeito perfeito para isso. Afinal, todos eles sabem que eu não ando em uma moto desde... – parou abruptamente – Não importa. Já passou. Agradeço a ajuda. Agora vamos?

- Temos que pagar a conta do hotel.

- Já fiz isso. – ela jogou um capacete para ele, colocando o seu. – Eu dirijo?

- Tá maluca? Ninguém dirige minha Harley. Pode ir pra trás.

John ignorou a careta que Susan fez, e acelerou. Seguiu pelos caminhos que ela indicava, e de quando em quando balançava a moto para que ela se segurasse com mais força. Adorava essa proximidade, e percebeu que ela também ao parar no posto e a moça nem se mover.

- Preciso descer para colocar a gasolina, Susie... Controle-se.

- Para de se achar tanto, J! – lhe deu um tapa.

- Jamais, ou perco todo meu charme. – piscou, enchendo o tanque – Por que essa coisa de J?

- Te dá mais opções pra outros nomes. – deu de ombros – Se não gosta, posso mudar.

- Preferia... Querido, Benzinho, Amor... – se curvou na direção dela até que seus narizes encostassem.

- O tanque está cheio, J. Hora de ir. – ela virou para o lado oposto, não deixando de sorrir.

John riu e voltou a dirigir. Susan apontou para uma estrada vicinal que levava a um velho chalé, de uma tia distante que nunca estava lá e sempre deixava seus parentes usarem. Ele não acreditou muito, mas não via outra escolha senão segui-la. Estacionou no celeiro grande e vazio, seguindo para a casa.

- Parece mal assombrada. – ele sussurrou.

- Abandonada, eu diria. Não vêm muitas pessoas aqui. Afinal, a cidade fica a quase meia hora de carro e o isolamento não é atraente para a maioria das pessoas. – Susan deu de ombros – Podíamos dar uma limpada.

- Aaah, isso é com você. Vou ler alguns dos seus artigos, enquanto isso.

Susan bufou, mas não viu escolha após entrarem na casa em si. A camada de poeira no chão e nos móveis era espessa, e havia teias de aranha sobre as paredes. Então ela logo começou a fazer a limpeza, enquanto John permanecia sentado no sofá estudando com afinco os dados obtidos.

Pediram uma pizza para jantar, e sentaram-se um em cada ponta do sofá, com as pernas sobrepostas.

- E agora, Susan? Você pode falar por que não?

- John...

- Eu acho que merecia saber, se vou confiar em você.

- Você já teve alguém, mesmo com essa sua vida? – ela sussurrou.

- Na verdade, não. Nunca conheci alguém que valesse a pena. Sempre fui um solitário, desde que meus pais se mudaram para a Rússia, quando eu tinha uns 19 anos. - deu de ombros – Nada importante, já sabia me cuidar. Sua vez.

- Eu fui casada... Até quatro anos atrás. – a voz dela mal saía, e olhava fixamente para o chão.

- E o que houve? – John perguntou, após alguns minutos de silêncio.

- Ele era meu fotógrafo. Conseguimos manter o relacionamento em segredo por muito tempo, mas então... – ela engoliu em seco – Walter descobriu. Scott estava tirando fotos para uma matéria minha... E tomou seis tiros. Eu nem teria ficado sabendo... Mas ele teve direito a um último pedido. Me ligou, pedindo para que eu parasse de escrever sobre Walter...e dizendo que sempre me amaria, e que não se arrependia de nada. – secou uma lágrima que escorria – Não tive mais ninguém, desde então.

- Eu... Sinto muito, Susie. – John se aproximou e a abraçou – Eu não sabia.

- Nem tinha como, não é? Mas já passou. Só não quero que se repita. – suspirou – Amanhã devíamos dar uma volta pela cidade, procurando alguma coisa suspeita... Ver se descobrimos onde fica o depósito. Certo?

- Tudo bem. Mas não acho que o lugar pareça suspeito...

- Olha lá. O matador está aprendendo a pensar... – Susan sorriu, levantando-se – Boa noite, J.

- Sofá pra mim? – John olhou-a com biquinho.

- Sofá pra você. – continuou sorrindo, subindo para o quarto.

Os dois passaram a manhã seguinte examinando a cidade. Não tinha mais do que quatro quarteirões, e os prédios, sem sua maioria, eram de restaurantes e pequenos hotéis, além de casas familiares. Nenhum com mais de quatro andares.

Ao se aproximarem do prédio mais distante da cidade – um bar, chamado Lord Peano – Susan tremeu.

- O que houve? – John sussurrou.

- George Peano foi um matador muito famoso quando eu era criança... Acho horrível um lugar ter seu nome. Acredito que seja este o local que procuramos. – ela sussurrou de volta.

- Devemos ficar de olho... Procurar algum tipo de movimentação?

- Acho que sim. Olha, ali na frente tem um restaurante... Vamos almoçar.

John concordou com a cabeça, e seguiram para lá. Havia mesas do lado de fora, e lá eles sentaram. Passaram um bom tempo observando em volta e conversando com a garçonete, que disse que o Peano não era um lugar bem freqüentado – os delinqüentes da cidade costumavam se reunir lá, fora alguns forasteiros que nunca ficavam mais de um dia lá.

Ao retornarem para a fazenda, ficaram um bom tempo quietos, pensando.

- Vamos entrar lá amanhã à noite. Acho bom você sair a tarde e comprar algumas provisões. Devo ficar bem.

- Susie, acho que você se arrisca quando me pede isso. Não é uma boa idéia. – John suspirou.

- Mas é o melhor que se tem a fazer... Boa noite, John.

Nenhum comentário:

Postar um comentário