domingo, 3 de abril de 2011

9-

John acordou preocupado no dia seguinte, mas seguiu os planos como Susan quis. Ela ficou trabalhando no celeiro, brincando com as ferramentas e mexendo com o feno. Eram duas horas quando ele saiu, seguindo para a cidade de moto.

Foi diretamente ao armarinho da cidade, comprando várias garrafas d’água e salgadinhos. Todos o olhavam com suspeita enquanto ele caminhava até sua moto. Olhou em seu relógio, e tinha ficado quase uma hora fora. Resolveu voltar, mas assim que subiu na moto um garoto, com pouco mais de 16 anos, aproximou-se.

- Puxa vida moço, que moto legal essa...

- Hm... Agradeço. – John abaixou a tampa do capacete, indicando impaciência.

- Qual modelo da Harley é? Posso dar uma volta?

- Você não deve conhecer, e não, não pode.

- Mas puxa, é meu sonho, tio! Vamos lá, só uma voltinha!

- Não, garoto. Estou com pressa e quero ir embora.

- Você vai me dar uma carona, ou acabo com você! – o garoto tirou um canivete da mochila.

John teve de se controlar para não rir. Tirou o capacete e o encarou, com os olhos faiscando.

- Sai daqui, moleque, ou vai se machucar.

- Tá achando que é de brinquedo, tá? Mas não é não, é de verdade!

Nisso, o garoto avançou para John, que deu um passo para o lado e atingiu o garoto no braço com o capacete. Ele derrubou o canivete, e o matador o chutou para um bueiro próximo, ignorando os pedidos do outro.

- Cuidado com quem você se mete. – ele sibilou, subindo da moto e acelerando.

Ao passar pela casa achou estranho todas as luzes estarem apagadas. Entrou no celeiro e ao descer da moto e seguir para a porta, ouviu fracamente:

- J, abaixa!

Nem pensou duas vezes e se jogou no chão, e um tiro passou próximo a sua cabeça. Escondeu-se atrás de uma das vigas, e gritou:

- Quem está aí?

- Se você sair agora daqui, eu não o mato! Vai logo! – uma forte voz masculina, com sotaque italiano, gritou.

- E se eu rejeitar a proposta? – começou a se arrastar para o outro lado da viga, tentando encontrá-los.

- Vai morrer e vê-la ser morta também! – atirou contra um monte de feno próximo a John, que tirava a própria arma do cinto.

Começou a se arrastar, até que conseguiu vê-los. Era um homem corpulento, com um bigode ralo, que pesquisava todo o celeiro, mirando com a arma segurada com uma única mão. A outra mantia a boca de Susan fechada. Ela estava com vários cortes pelos braços e pescoço, fora um olho roxo. Ele sangrava nas pernas e seu grande nariz curvado parecia quebrado. John queria atirar nele, mas não podia: Susan cobria grande parte dele.

Ele então saltou por cima do feno, vendo que conseguia distrair o outro, que começou a atirar aleatoriamente, até ele voltar a se esconder atrás de uma máquina da fazenda. Respirou fundo.

- Quanto tempo acha que vai conseguir se esconder? Acha que ela vai agüentar, é? – Susan deu um grito agudo, e John atirou próximo deles para poder ver o que acontecia.

O homem a apunhalara no ombro, e era possível ouvir seus gritos mesmo com a grande mão do homem cobrindo sua boca. Ela chorava incontrolavelmente.

- Susan... Você tem que confiar em mim. Eu o tenho na mira. Mas você está atrapalhando. – John gritou, com a arma apontada para a mão do homem. Atirou.

Ouviu um grito, e um barulho de ferro caindo no chão. Ouviu o ferro se arrastando, e Susan voltando a gritar.

John correu rumo a escada, ainda abaixado, e pôde ver que o matador estava tentando estrangulá-la. Ela mordeu a mão dele, então, e abaixou a cabeça, de forma que o outro pôde atirar na cabeça do italiano, que soltou a moça, caindo desmaiada.

Correu na direção dela, e sentiu-lhe o pulso. Mal respirava, e sangrava muito no ombro. Remexeu em seus bolsos, e encontrou o atestado de casamento que falsificaram. Pegou o celular e ligou para a emergência:

- Emergência? Minha esposa foi atacada por um maluco em um celeiro perto de Ravetown, na estrada 502 e está sangrando muito! Mandem uma ambulância o mais rápido possível! Por favor!

Depois de vários minutos, John pôde ouvir o som das sirenes, e desceu correndo carregando Susan nos braços. Teve de dar muitas explicações enquanto aguardava que ela saísse da emergência, mas conseguiu contornar qualquer suspeita, e a morte do assassino foi considerada legítima defesa por todos que ouviram a história – policiais e médicos, no caso.

Quando o médico veio dar o diagnóstico, logo foi dizendo:

- Ela vai ficar bem, não é doutor? Nada sério? Sem chances de morte?

- Ela está com um pulso quebrado, teve uma grande hemorragia mas conseguimos estancar. Quanto ao sufocamento, não chegou a sofrer danos do esôfago e tampouco ficou sem oxigênio por um tempo que levasse a maiores problemas. Só acho bom que ela passe a noite aqui, pois ela está sedada, e amanhã podemos dar alta.

- Obrigado, doutor. Posso vê-la?

- Pode passar a noite com ela, se desejar. Tem uma poltrona ao lado da cama.

John acenou com a cabeça, aliviado. Sentou-se ao lado da cama e observou Susan, engessada, agora com uma marca roxa adicionada a fina cicatriz do corte que ele mesmo fizera ali. Viu a outra mão dela repousada na cama, e a segurou. Jurou ali que não a deixaria mais sozinha, mesmo que ela pedisse. Sentiu uma lágrima escorrendo pelo seu rosto, e a secou, chocado. A última vez que chorara foi quando seus pais partiram, há muito tempo.

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