quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Capitulo 1

Hogwarts. Época em que Voldemort estava começando a ter poder pela primeira vez. Essa história foi completamente apagada dos registros, pois caso alguém descobrisse a utilidade da corrente com a palavra “Safety” escrita e tentasse refazer o feitiço e este caísse em mãos erradas, poderia trazer outro bruxo das trevas a esse mundo. Essa corrente possuía o poder de manter um determinado local seguro, o local que o usuário mais desejasse, enquanto esse mesmo usuário estivesse vivo. Esse feitiço ajudou Hogwarts a se manter seguro quando ainda não se conhecia muito de Voldemort. Mas também trouxe alguns infortúnios...

Mais um primeiro de setembro de verão. O sol estava forte, iluminando as ruas de Londres pela manhã. Da janela do caldeirão furado, via-se uma menina, jovem, longos cabelos negros lisos até as pontas e olhos cinzentos sérios encarando o céu. Ela sabia que ele não continuaria aberto por muito tempo, não com os desaparecimentos aumentando. Levantou-se, e não ficava nem maior do que a janela. Olhou-se no espelho prendendo o laço em torno de sua fina cintura mais firmemente, e suspirou.

Último ano em Hogwarts. Nada indicava qualquer mudança quanto aos anos anteriores, que foram difíceis e longos para ela e seu melhor amigo, João. Apertou no pescoço a corrente que tanto os perseguira, e agora estava ali, completa, intacta. Nada aconteceria com Hogwarts. Não enquanto nada acontecesse a ela.

Saiu de seu quarto, colocando tampões de orelha – apesar de não surtirem nenhum efeito. Já faz 17 anos que ela tentava buscar alguma coisa para ajudar na maldição que recebera de um bruxo das trevas pouco depois que nascera, mas não havia cura: ela continuaria ouvindo tudo, qualquer ruído, qualquer segredo em uma distância muito grande para seu gosto. E nada podia ser escondido dela: ela sempre ouviria, por menor que fosse o murmúrio. Isso costumava incomodá-la, mas agora já estava acostumada. Só tentava pensar em outras coisas para poder ignorar a orquestra de vozes.

Carregava um malão em uma das mãos e na outra uma gaiola com uma coruja-das-torres, Klitus. Chamou um táxi:

- Estação King’s Cross, por favor.

Chegaram lá sem demora, ainda que com um pouco de trânsito. Passando pelas estações, ela podia ouvir as pessoas reclamando dos trens atrasados, da viagem, da cabine... Ao entrar na estação 9 ¾, sentiu-se aliviada. Ainda que os barulhos aumentassem, graças a grande locomotiva vermelha, eles eram mais agradáveis e lhes traziam boas lembranças.

Sentou-se em uma cabine ainda vazia, e quando se preparava para ler um livro, a porta foi aberta.

- Jennifer Skole... Sempre na mesma cabine.

- E você não se esquece, não é João? – Jennifer piscou – Sete anos depois...

João riu e sentou-se. Ele era um garoto alto, forte, de pele morena, cabelos castanhos curtos e olhos de mesma cor. Tinha um sorriso branco e expansivo, que agora usava no rosto.

- Férias boas? Sentiu muito a minha falta?

- Oras, teriam que ter sido muito ruins para sentir saudades suas, não é mesmo? – Jennifer desviou de um soco de João – Foram boas, e senti sim. E você?

- Não tanto... Meus pais viajaram a negócios e tive que cuidar do meu irmão mais novo. Mas ele foi divertido...

- Pena...Se quiser se animar, pense no carrinho de doces!

- Outra coisa que eu nunca esqueço!

Os dois riram, e continuaram contando mais detalhes sobre suas férias. João era do Brasil, mas seus pais haviam se mudado com ele para a Inglaterra quando ele tinha apenas dois anos. Eles costumam visitar a família durante as férias de verão, em uma das maiores cidades de lá e ele sempre trazia alguma lembrança para a amiga. Desta vez, trouxe-lhe um pingente da cidade, e ela o colocou junto das letras de sua corrente.

As horas passaram e o carrinho de doces chegou. João saiu ansioso, como sempre, e deu de cara com uma menina loira, cabelos curtos e olhos azuis sonhadores.

- Mary... Desculpe... – ele balbuciou.

- Está tudo bem, João. – Mary sorriu – Devia ter previsto que você atacaria os doces, mas não a mim.

- B-bom, vai ver eu te confundi com um...

- Velhas desculpas nunca colam... – ela corou, sob os risinhos de suas amigas – Jennifer, bem de férias?

- Bem, bem.. E você, Mary?

- Não muito... Um dos desaparecimentos foi em minha cidade. Fugimos para a casa de uma de minhas primas para evitarmos sermos os próximos.

- Sinto muito, Ma... Se tiver alguma coisa que eu possa fazer... – João disse.

- Acho que não. Mas agradeço a preocupação. Bom ver vocês... Até mais!

João ficou assistindo-a ir embora, com os doces na mão. Então voltou a cabine e suspirou longamente.

- Você devia tentar de novo. Depois da longa conversa que tivemos ano passado, se ela não aceitar o primeiro convite para sair com você, ela é uma tonta.

- Não diga isso... Vai saber se ela acreditou em você ou não?

- Depois de tudo que eu disse, acho difícil ela ainda achar que somos um casal.

- Ela só acha isso porque ela não conhece todos os seus defeitos e manias irritantes, sabe... – João disse, irônico.

Jennifer mostrou-lhe a língua, arremessando seu livro em cima dele em seguida.

Após algumas horas, puseram suas roupas de Hogwarts. Vestes negras, com gravatas de azul e cobre – as cores de sua casa, Corvinal. Entraram na carruagem com os gêmeos Kibble e Symon, os dois muito brancos, de cabelos loiros muito claros e olhos negros profundos.

- Hey Kibble, Symon. Tudo em ordem? – Jen disse, sentando.

- Maravilhoso, Jen! – Kibble disse, entusiasmado.

- Fizemos a maior viagem! Fomos a Austrália! – Symon completou.

- E como conseguiram voltar tão brancos? – João perguntou, rindo.

- Mamãe colocou um feitiço... – Kibble suspirou. – Gostaria de ter aprendido a desfazê-lo antes do fim da viagem...

Jennifer não pôde deixar de sorrir ao ouvir a última parte – visto que Kibble sussurrou isso para si mesmo.

Ao entrarem no castelo, sentaram-se a mesa e assistiram à seleção dos alunos para suas casas, como todos os anos, e ansiaram pelo discurso de Dumbledore. Ele era um senhor muito alto, de barba e cabelos acinzentados, olhos azuis profundos e oclinhos de meia-lua. Hoje, usava sua capa festiva roxa.

- Primeiro aos avisos anuais. Lembramos aos alunos antigos, e dizemos aos novos, que é proibida a entrada de qualquer estudante na Floresta Proibida, pois nunca se sabe o que lá vive. Também devo mencionar que o nosso zelador, Filch, mantém uma lista de todos os feitiços proibidos de serem usados nos corredores afixada à porta de sua sala. Ademais, peço para que todos vocês fiquem de olho para fora de suas janelas no dia 31 de outubro, pois estamos preparando uma grande surpresa para todos... Agora, bom apetite!

A refeição correu normalmente, e ao trocar para a sobremesa os alunos começaram a cochichar. Jennifer não pôde deixar de ouvi-los, e sussurrou para João:

- Você percebeu que ele não anunciou um novo professor de Defesa Contras as Artes das Trevas ainda?

- Percebi sim... Já estava imaginando o porquê...

- Será que ele não arrumou n...

Ela congelou no mesmo lugar ao observar uma figura que entrava pela porta atrás da mesa dos professores, dirigindo-se a Dumbledore. Era um homem muito magro, não muito alto, de cabelos propositalmente bagunçados castanhos caídos sobre os olhos, barba por fazer, e ao levantar o rosto, via-se olhos mel-esverdeados duros. Não parecia muito mais velho que os alunos do último ano.

- Jen... Você está branca, que que foi? – João disse preocupado.

Jennifer só apontou. João ficou de queixo caído. Dumbledore levantou-se novamente, pigarreando alto. O salão ficou em silêncio instantaneamente.

- Acredito que alguns de vocês ainda se lembrem de seu ex-colega Luke Veig. Ele se formou em Hogwarts a três anos, e devido a seu grande sucesso nos estudos de Defesa Contra as Artes das Trevas, será nosso professor esse ano. Espero que o tratem bem.

Jennifer ficou olhando Luke longamente. Pela forma que se sentia, não duvidava que todos a seu redor estivessem sentindo o misto de emoções que passava dentro dela: raiva, frustração, depressão, mágoa, felicidade e um pingo de esperança. Eventualmente, seus olhos se encontraram, e pôde-se ver um pouco da dureza de seu olhar derreter.

- Vamos embora, João? – Jen levantou-se de um pulo, antes de tocar na sobremesa.

João a seguiu de perto. Ela jurara que pôde ouvir “Olá, Jenny”, mas balançou a cabeça e continuou andando.

Fan Fic

Peço desculpas pela demora, mas tive problemas de estudos na facul e fiquei sem escrever por um tempo...
Venho para introduzir uma Fan Fic de Harry Potter, que também estou escrevendo - como disse, gosto de variar.
O Título é: O Menor Lado Das Correntes Em Forma de Letras - O Fim
[By eu e João, há cerca de 8-9 anos x)]
A Introdução vai como:

Hogwarts. Época em que Voldemort estava começando a ter poder pela primeira vez. Essa história foi completamente apagada dos registros, pois caso alguém descobrisse a utilidade da corrente com a palavra “Safety” escrita e tentasse refazer o feitiço e este caísse em mãos erradas, poderia trazer outro bruxo das trevas a esse mundo. Essa corrente possuía o poder de manter um determinado local seguro, o local que o usuário mais desejasse, enquanto esse mesmo usuário estivesse vivo. Esse feitiço ajudou Hogwarts a se manter seguro quando ainda não se conhecia muito de Voldemort. Mas também trouxe alguns infortúnios...

domingo, 3 de outubro de 2010

Sem Título - Cap. 2

2-

No domingo tudo estava certo. John terminava de ajeitar sua gravata quando o relógio mostrava sete e meia. Sorriu, presunçoso, e terminou de bagunçar seu cabelo sobre os olhos. Resolveu esperá-la na mesa, de forma a parecer ansioso pelo encontro.

Pontualmente, Susan entrou no salão, com um vestido preto curto mas fechado no colo e botas cano alto de mesma cor. Estava maravilhosa. John piscou para tirar esse pensamento de sua cabeça, e beijou a mão dela como no primeiro dia.

- Velhos hábitos nunca morrem, hã? – Susan riu.

- Não para moças encantadoras como você. – John piscou.

Ela continuou rindo, e sentou-se na cadeira puxada por John. Escolheu seu prato, e o vinho que mais a agradava. Logo começou a bebê-lo, como ele torcera para que ela fizesse. Conversaram bastante, riram muito. Susan parecia estar alegre devido a bebida, e John se aproveitava ao máximo disso, com suas famosas cantadas e elogios, que a faziam piscar docemente para ele.

- Opa, opa... Melhor eu parar com a bebida. Ainda quero dirigir para casa. – Susan disse depois de um soluço.

- Você vai me deixar aqui... sozinho? A noite toda? – John fez biquinho.

- Era o plano original, tolinho. – ela disse ironicamente – Mas... posso fazer nossos planos mudarem, se desejar.

O tom com que ela disse a última palavra e o olhar forte que o encarou não deixava dúvidas: ele desejava, tanto quanto ela. Mas ele desejava para matá-la, é claro. É claro?

Mesmo em dúvida, ele piscou e chamou o garçom para pagar a conta. Susan seguiu à frente para o elevador, e John rapidamente apertou o andar. Subiram quietos, trocando olhares famintos durante o trajeto.

John abriu a porta rapidamente, e Susan passou por ele tão perto que seu fraco perfume inundou suas narinas e o deixariam anestesiado por um momento. Quando voltou a si, Susan estava no banheiro, sentada no fundo do Box, com uma das mãos na torneira do chuveiro.

- E então... como vai ser? – Susan sorriu ironicamente.

- Alguma... preferência? – John respondeu surpreso. Ali era onde ela deveria estar... mas depois de morta.

- Supus aqui ideal. – Susan ligou o chuveiro, indo para o canto oposto – Bom isolamento acústico. Ninguém vai ouvir seu tiro, John.

- Do que me chamou?

- John, Julian. John. Seu nome real... Ou não?

- Acreditei que estivesse bêbada e confusa. – John disse, sério – Me enganei, obviamente.

- Mas com certeza. – Susan riu – Olha o matador que mandam atrás de mim. Não escolheria outro para o serviço... Seus métodos me parecem muito, muito agradáveis no fim.

- Entende dos meus métodos, então... Interessante. – John disse, irônico – Tem a ordem do que deseja que eu faça então?

- Ah, claro que tenho. Atire, e depois corte meus pulsos. Derrubei as pílulas na pia e no meio caminho, como pode ver... - Susan parou repentinamente, quando John se aproximou com a arma encostada em sua barriga.

- Ninguém...faz...meu método. Só eu. – ele disse fortemente – Últimas palavras?

Como Susan simplesmente riu, em um ímpeto de raiva John se afastou e simplesmente atirou, no mesmo lugar onde segurava a arma um instante atrás.

No entanto, as risadas não cessaram. Quando John olhou, Susan levantou-se e jogou a bala a seus pés.

- Subestimar seu serviço é um erro grandioso, John Venom. Ou pensou que eu não sabia que vinham atrás de mim?

- Pensei. Você não parece tão sabida. – John desviou de Susan, que passou rapidamente para o quarto.

- Não dá pra ser muito burra e encurralar Walter do jeito que tenho feito, dá? Falta de inteligência. – Susan bocejou.

- Bêbada, não era pra você saber seu nome. – John retrucou, seco.

- Só porque eu estou bêbada não quer dizer que... – outro bocejo – eu fique burra...até onde eu sei...- ela se deitou, fechando os olhos.

John a observou. Agora que ela sabia quem ele era, não podia sair viva dali. Pelo contrato, ele também não pode dar um tiro em sua cabeça, seria desconfiável que ela alcançasse até lá estando tão drogada por remédios quanto deixava claro sua carta e o exame de sangue – planejara obrigá-la a tomá-los antes de atirar. Não tinha escolha. Mesmo que fosse contra o que ele prezava no serviço, que era a astúcia no lugar da força.

Pegou a faca que guardava na meia. Aproximou-se silenciosamente da moça adormecida, e apertou-a contra seu pescoço. Susan assustou-se, fazendo um corte abrir cedo demais.

- Achei que isso fosse contra seus princípios.

- Não tenho princípios. – John sussurrou.

- Então vamos lá... aperta mais. – Susan o encarou, séria.

- Ahh não... aos poucos é muito melhor... ajuda a aumentar a dor... – John apertou levemente a lâmina, abrindo o corte de forma que podia-se ver o sangue.

- Tem razão... – ela se encolheu levemente – Mas... pode valer a pena, se as histórias forem reais...

- A que histórias você se refere? – John se aproximou, pressionando um pouco mais.

- Você...Beijar... antes de matar totalmente...- Susan sussurrou, uma lágrima escorrendo de seu olho.

- Não se preocupe. Irá descobrir. – John sorriu ironicamente, voltando a apertar a faca após tê-la soltado levemente.

Se apiedara por um momento. Aquela lágrima o magoou, a primeira em todos esses anos...E os lábios de Susan se aproximaram, vermelhos e atraentes...John apertou até ouvir um fraco gemido de dor, e a beijou.

Algo estranho aconteceu então: Susan o beijou de volta, e de um jeito que ele jamais fora beijado. Ali tinha um toque de paixão, desejo...luxo. O susto o fez soltar sua arma, que foi ao chão com um baque surdo. Antes que pudesse se mexer, ou sequer pensar, ele se viu sob Susan, que pressionava aquela mesma faca contra seu próprio pescoço.

- Mas que....

- Shhh. Achou que seria tão simples? Estava errado. – Susan se curvou sobre ele, beijando-lhe o pescoço até chegar a sua orelha – Se tivesse pesquisado um pouco mais... Talvez não tivesse tantos problemas. – susurrou, roçando seus lábios levemente ali.

- Se você não tivesse sido tão curiosa e metida a detetive, não teria que se colocar na situação em que está. – John retrucou – Poderia estar feliz com a sua vid...

Ele não pôde continuar a frase pois ela pressionou o cabo da faca em seu esôfago, fazendo-o perder o ar. Então tirou uma agulha fina e longa de sua própria bota, apontando-o para a jugular do rapaz. Curvou-se novamente, seu nariz encostado no dele.

- Últimas palavras, John?

- Sem.. chance...

John precisou pular para conseguir beijá-la, mas o ato teve o efeito necessário: Susan afrouxou a mão e ele pôde jogar a agulha longe e pegar a faca de volta, rasgando as costas da moça. Ela fraquejou, e ele aproveitou a chance para colocá-la para baixo, segurando seus braços com uma das mãos. Afastou-se, e preparou seu último golpe, mas foi puxado pela gravata por uma das mãos que Susan conseguira soltar, sendo beijado novamente.

Sem que a faca saísse de sua mão, sentiu-se atingido no flanco com mais força do que gostaria. Soltou-se de Susan, e jogou a faca longe do alcance de ambos, acreditando que isso acabaria com a briga. A moça o chutou fortemente entre as pernas e correu pela arma, sendo arremessada ao chão por um John desequilibrado e xingando de dor.

- Qual é o seu problema? – ele gritou.

- Você é meu problema! E quero acabar com todos os meus problemas! – Susan tentava se arrastar.

- Nós podemos ser mais razoáveis! – John puxou Susan pelas pernas, trazendo-a para mais longe da arma e mais perto de si – Pensar em algum acordo, ou algo do tipo!

- Que tipo de acordo faria com um assassino?!

Susan usou o salto da bota para apunhalar o braço de John, e se apossou da faca. Ele se desviou de alguns golpes, até conseguir segurar as mãos da moça e colocá-la contra a parede, um braço torcido e o outro fortemente preso com sua força. Uma de suas pernas segurava as duas dela, para evitar ataques maiores.

- Agora, vamos conversar, como pessoas civilizadas. – John sussurrou ao pé do ouvido de Susan.

- De civilizado você não tem nada. – Susan disse, entre lágrimas.

- Se eu não tivesse, você não estaria aqui, não é mesmo? – John beijou-a levemente pelo pescoço e pelo ombro, aparecendo devido ao corte feito nas costas.

- Não. Mas também não teria me enganado com seus truques e seria dispensável... – ela se arrepiou após um beijo em sua orelha - essa situação constrangedora.

- Acho a situação constrangedora um tanto quanto apreciável... Seu cheiro é extremamente agra...

- Corta essa. Vamos lá, acaba o serviço. É o que você gosta de fazer, não é mesmo? – Susan virou a cabeça para o outro lado.

- Poderíamos pensar em algum tipo de acordo... – John a seguiu, sem deixar de beijá-la – Que beneficiasse a ambos.

- O que você propõe? Que eu pule da janela e você fique feliz ou o que? Que eu fique quieta para que você me deixe ir embora, para eu ficar a mercê do próximo matador de aluguel que mandarem? – ela tentou se soltar, em vão.

- Eu proponho... – John a virou, de forma que os dois ficaram de frente, separados apenas pelo comprimento de seus narizes – Que você me contrate até pegar o Walter de vez. Armamos um plano, o encurralamos e o matamos. Ou prendemos, está bem. – ele deu de ombros após ver o olhar enojado da moça – O que te parece?

- Insensato e absurdo. E aposto que extremamente caro. – Susan o olhou profundamente – Sem termos adicionais?

- Sem termos adicionais. A menos que você queira algum. – John sorriu, provocante.

- O dobro. Nem um centavo a mais. 15% adiantado.

- Fechado. – ele a soltou da parede, puxando-a para mais perto – Algo mais?

- Só hoje. – ela o beijou.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Sem Título - Cap. 1

Era uma quinta-feira de primavera, final de tarde quente, quando o telefone finalmente tocou no quarto 144 do Hotel Bella Muerte, onde John estava hospedado.

- Boa noite, Sr. Venom... Como tínhamos combinado, escrevi tudo que pediu. - disse Walter, com sua voz rouca.

- Ok... Onde estão? - John disse com pressa.

- Primeira gaveta do seu guarda-roupa. Quero o serviço feito em uma semana. E sem vestígios de assassinato.

- Problemas de depressão, certo? - ele sorriu.

- Isso mesmo. Mais um motivo porque estou dando o serviço a você. Espero que não haja falhas.

- Não se preocupe Walter. Não cometo erros. Ligue no outro número que passei, vou estar ocupado nos próximos dias. Adeus - John desligou o telefone.

Ao desligar, foi até o armário do seu quarto de hotel e retirou um grande envelope branco da gaveta, com um nome escrito em vermelho. "Susan Roth". Abriu e começou a ler o histórico rapidamente. "Jornalista descobre esquema de contrabando"..."Roth encontra o motivo de morte das 80 pessoas do litoral do Brasil"...

Depois virou a folha e observou a foto da moça por um instante. Atrás dela, escrito em letras pequenas e apressadas: "freqüenta o shopping próximo da estação nos dias que antecedem o final de semana”. John colocou sua jaqueta, pegou a moto e seguiu para o local indicado.

Em alguns minutos ele estava andando pela praça de alimentação, observando a variedade de restaurantes e fast-foods que havia em volta. Tirou um pequeno cartão do bolso e observou a foto de Susan. Dirigiu-se então ao restaurante ao lado, fez seu pedido e ficou parado segurando sua bandeja até avistá-la.

Estava sentada em uma mesa próxima, extremamente concentrada em seu próprio prato. John aproximou-se e colocou sua bandeja na mesa da moça, o que a fez erguer os olhos ligeiramente. Ela o fitou por um instante, olhando para cima um homem alto, ligeiramente pálido, com brilhantes olhos verdes e cabelos negros desarrumados que caíam sobre seus olhos. Ele também ficou parado um instante, sorrindo. A foto parecia ter sido tirada naquele instante, pois encarava uma mulher baixa, ruiva, com olhos azuis profundos e sem expressão.

- Está esperando alguém? - John perguntou, sorrindo.

- Não. - Susan respondeu.

- Então se incomoda se eu sentar?

- Tenho escolha? - sorriu, irônica. – Afinal, o lugar é público.

- Felizmente. - John sentou-se. Susan continuou a encará-lo, esperando alguma coisa. - Oh, desculpe. Chamo-me Julian...Julian Stokes.

- Prazer, Susan Roth. - e estendeu a mão.

- O prazer é meu. - pegou a mão e beijou-a delicadamente.

Susan olhou-o desconfiada, retirando a mão de perto dele rapidamente. John começou a falar então, e mesmo com as respostas secas da moça não desistiu. Depois de um tempo, no entanto, após descrever seu “trabalho” como cirurgião no hospital de New Jersey e como gostava de observar as pessoas nos locais públicos enquanto lia o jornal, Susan começou a falar mais, comentando sobre sua carreira de jornalista após ter se formado em Stanford.

A conversa durou muito mais do que ele esperara, e o relógio marcava nove e meia. Susan suspirou.

- Infelizmente preciso ir. Amanhã preciso chegar cedo no jornal. – ela pegou um bilhete de metrô do bolso.

- Não gostaria que eu te desse uma carona? – John sorriu.

- Moto? – Susan torceu a boca.

- Harley... E capacete. – John piscou.

- Está certo. Moro na 22 com a Quinta.

John a levou até a moto e subiu, com Susan logo atrás. A moça segurou em sua cintura firmemente, até chegarem na frente de um alto prédio, velho, com várias janelas quebradas e a pintura descascada.

- Obrigada pela carona. – Susan passou o capacete de volta a John.

- Quando posso vê-la de novo, Susan? – John sorriu.

- Quem sabe, não é? – Susan piscou.

- Mesmo lugar amanhã, talvez?

- Se você conseguir se lembrar exatamente qual mesa nós estávamos... Posso até deixar você se sentar de novo. – Susan riu levemente – Boa noite, Julian.

John a assistiu entrar, dando um último aceno antes de bater a porta. Então observou o prédio.

- Acho que reportagens realmente não rendem nada... – disse para si mesmo, rindo e indo embora.

No dia seguinte, arrumou-se rapidamente, mas melhor do que no dia anterior: uma camiseta pólo, calça jeans, e o cabelo mais desarrumado do que antes. Ele notara a preferência de Susan por estes homens no shopping, e então resolveu superá-los. Olhou-se mais uma vez no espelho, e seguiu rumo ao encontro.

O local estava mais cheio que no dia anterior. Como ele não tinha certeza se deveria chegar à mesa já com a comida, limitou-se a tentar percorrer os mesmos passos que no dia anterior. Com o volume de pessoas, ficou confuso por um instante, mas logo viu os cacheados cabelos ruivos de sua vítima. Aproximou-se com o mesmo sorriso estampado, e um olhar um tanto penetrante.

- Boa noite, Susan.

- Julian. Já estava ficando com fome... – Susan começou a levantar.

- Ah, não se incomode, por favor. Eu posso trazer sua comida. – John sorriu – Preferências?

- É sexta. Gosto de um lanche. Pode trazer o que quiser. – Susan sorriu.

John piscou e se dirigiu a um dos fast-foods da praça. Comprou dois sanduiches iguais, e sentou-se rapidamente.

- Sempre foi um hábito seu, comer porcarias de sexta-feira? – John pergunou.

- Desde que comecei a escrever para o jornal. Estágio duro, pouco tempo para comer... Ou qualquer outra coisa. – Susan riu, como se as lembranças fossem maravilhosas. – Nunca imaginaria que seria a fase menos trabalhosa da minha vida.

- Como assim?

- Ir atrás das minhas reportagens dá muito mais trabalho... Ainda que por curtos períodos de tempo. Não é fácil descobrir onde os seqüestradores, traficantes e matadores podem estar. – ela engoliu pesadamente seu refrigerante – Pode demorar meses. Não costumo desistir de flagrar quem eu procuro. Não tenho escolha, a não ser terminar... E nunca falhei, até hoje.

John piscou algumas vezes. Parecia uma descrição dos seus anos de serviço... Ou não. Loucura. Ela era completamente diferente dele, não era possível terem coisas em comum. Ele então resolveu mudar de assunto, falando sobre comida e filmes... E se arrependeu mais ainda.

Susan não era nada como parecia. Gostava de comidas pesadas, massas, bebidas fortes. Filmes de terror, ação e suspense... Quanto mais sangrentos melhor. Como ele. Foi nesse ponto que resolveu agilizar o serviço, antes que ele ficasse confuso.

Susan novamente permitiu que ele a levasse para casa. Ao descer, a moça perguntou:

- E quando será a próxima?

- Qual dia você pode? – John sorriu.

- Domingo? Mesmo lugar?

- Por que não um lugar... diferente? Conheço um ótimo restaurante de massas, não tão longe daqui.

- Posso saber o nome? Para ver se a crítica é boa? – Susan pareceu-lhe irônica.

- Bella Muerte. Excelentes pratos. Vinhos maravilhosos. Se você acreditar que a companhia pode ser boa...

Susan riu, concordando com a cabeça.

- Oito horas?

- Oito horas. Te espero lá. – John piscou.

Susan riu novamente, e entrou. Tudo ia como planejado: ela estava claramente interessada, e de nada desconfiava. Agora tinha um dia inteiro para conseguir as pílulas, um relato de suicídio... e sua passagem para a Austrália.

Prefácio - Sem Título

Comecemos por uma curta. O prefácio da história ainda sem título:

John estava sentado naquela sala vazia, sem janelas, fazia horas. Pensava calmamente no que passou nas últimas semanas, em tudo de errado que fez. A única coisa que não entendia era como parou ali. Achou a garota que fora contratado para matar, mas não o fez. E isso foi provavelmente o que o deixou mais intrigado... Tinha matado tantos, por que não aquela jornalista intrometida, pequena e aparentemente indefesa?

Sem nenhum palpite, recostou-se na parede e olhou para um ponto vazio, pensando, para ver se conseguia encontrar no fundo de suas memórias alguma razão sensata no meio de tudo.