domingo, 3 de outubro de 2010

Sem Título - Cap. 2

2-

No domingo tudo estava certo. John terminava de ajeitar sua gravata quando o relógio mostrava sete e meia. Sorriu, presunçoso, e terminou de bagunçar seu cabelo sobre os olhos. Resolveu esperá-la na mesa, de forma a parecer ansioso pelo encontro.

Pontualmente, Susan entrou no salão, com um vestido preto curto mas fechado no colo e botas cano alto de mesma cor. Estava maravilhosa. John piscou para tirar esse pensamento de sua cabeça, e beijou a mão dela como no primeiro dia.

- Velhos hábitos nunca morrem, hã? – Susan riu.

- Não para moças encantadoras como você. – John piscou.

Ela continuou rindo, e sentou-se na cadeira puxada por John. Escolheu seu prato, e o vinho que mais a agradava. Logo começou a bebê-lo, como ele torcera para que ela fizesse. Conversaram bastante, riram muito. Susan parecia estar alegre devido a bebida, e John se aproveitava ao máximo disso, com suas famosas cantadas e elogios, que a faziam piscar docemente para ele.

- Opa, opa... Melhor eu parar com a bebida. Ainda quero dirigir para casa. – Susan disse depois de um soluço.

- Você vai me deixar aqui... sozinho? A noite toda? – John fez biquinho.

- Era o plano original, tolinho. – ela disse ironicamente – Mas... posso fazer nossos planos mudarem, se desejar.

O tom com que ela disse a última palavra e o olhar forte que o encarou não deixava dúvidas: ele desejava, tanto quanto ela. Mas ele desejava para matá-la, é claro. É claro?

Mesmo em dúvida, ele piscou e chamou o garçom para pagar a conta. Susan seguiu à frente para o elevador, e John rapidamente apertou o andar. Subiram quietos, trocando olhares famintos durante o trajeto.

John abriu a porta rapidamente, e Susan passou por ele tão perto que seu fraco perfume inundou suas narinas e o deixariam anestesiado por um momento. Quando voltou a si, Susan estava no banheiro, sentada no fundo do Box, com uma das mãos na torneira do chuveiro.

- E então... como vai ser? – Susan sorriu ironicamente.

- Alguma... preferência? – John respondeu surpreso. Ali era onde ela deveria estar... mas depois de morta.

- Supus aqui ideal. – Susan ligou o chuveiro, indo para o canto oposto – Bom isolamento acústico. Ninguém vai ouvir seu tiro, John.

- Do que me chamou?

- John, Julian. John. Seu nome real... Ou não?

- Acreditei que estivesse bêbada e confusa. – John disse, sério – Me enganei, obviamente.

- Mas com certeza. – Susan riu – Olha o matador que mandam atrás de mim. Não escolheria outro para o serviço... Seus métodos me parecem muito, muito agradáveis no fim.

- Entende dos meus métodos, então... Interessante. – John disse, irônico – Tem a ordem do que deseja que eu faça então?

- Ah, claro que tenho. Atire, e depois corte meus pulsos. Derrubei as pílulas na pia e no meio caminho, como pode ver... - Susan parou repentinamente, quando John se aproximou com a arma encostada em sua barriga.

- Ninguém...faz...meu método. Só eu. – ele disse fortemente – Últimas palavras?

Como Susan simplesmente riu, em um ímpeto de raiva John se afastou e simplesmente atirou, no mesmo lugar onde segurava a arma um instante atrás.

No entanto, as risadas não cessaram. Quando John olhou, Susan levantou-se e jogou a bala a seus pés.

- Subestimar seu serviço é um erro grandioso, John Venom. Ou pensou que eu não sabia que vinham atrás de mim?

- Pensei. Você não parece tão sabida. – John desviou de Susan, que passou rapidamente para o quarto.

- Não dá pra ser muito burra e encurralar Walter do jeito que tenho feito, dá? Falta de inteligência. – Susan bocejou.

- Bêbada, não era pra você saber seu nome. – John retrucou, seco.

- Só porque eu estou bêbada não quer dizer que... – outro bocejo – eu fique burra...até onde eu sei...- ela se deitou, fechando os olhos.

John a observou. Agora que ela sabia quem ele era, não podia sair viva dali. Pelo contrato, ele também não pode dar um tiro em sua cabeça, seria desconfiável que ela alcançasse até lá estando tão drogada por remédios quanto deixava claro sua carta e o exame de sangue – planejara obrigá-la a tomá-los antes de atirar. Não tinha escolha. Mesmo que fosse contra o que ele prezava no serviço, que era a astúcia no lugar da força.

Pegou a faca que guardava na meia. Aproximou-se silenciosamente da moça adormecida, e apertou-a contra seu pescoço. Susan assustou-se, fazendo um corte abrir cedo demais.

- Achei que isso fosse contra seus princípios.

- Não tenho princípios. – John sussurrou.

- Então vamos lá... aperta mais. – Susan o encarou, séria.

- Ahh não... aos poucos é muito melhor... ajuda a aumentar a dor... – John apertou levemente a lâmina, abrindo o corte de forma que podia-se ver o sangue.

- Tem razão... – ela se encolheu levemente – Mas... pode valer a pena, se as histórias forem reais...

- A que histórias você se refere? – John se aproximou, pressionando um pouco mais.

- Você...Beijar... antes de matar totalmente...- Susan sussurrou, uma lágrima escorrendo de seu olho.

- Não se preocupe. Irá descobrir. – John sorriu ironicamente, voltando a apertar a faca após tê-la soltado levemente.

Se apiedara por um momento. Aquela lágrima o magoou, a primeira em todos esses anos...E os lábios de Susan se aproximaram, vermelhos e atraentes...John apertou até ouvir um fraco gemido de dor, e a beijou.

Algo estranho aconteceu então: Susan o beijou de volta, e de um jeito que ele jamais fora beijado. Ali tinha um toque de paixão, desejo...luxo. O susto o fez soltar sua arma, que foi ao chão com um baque surdo. Antes que pudesse se mexer, ou sequer pensar, ele se viu sob Susan, que pressionava aquela mesma faca contra seu próprio pescoço.

- Mas que....

- Shhh. Achou que seria tão simples? Estava errado. – Susan se curvou sobre ele, beijando-lhe o pescoço até chegar a sua orelha – Se tivesse pesquisado um pouco mais... Talvez não tivesse tantos problemas. – susurrou, roçando seus lábios levemente ali.

- Se você não tivesse sido tão curiosa e metida a detetive, não teria que se colocar na situação em que está. – John retrucou – Poderia estar feliz com a sua vid...

Ele não pôde continuar a frase pois ela pressionou o cabo da faca em seu esôfago, fazendo-o perder o ar. Então tirou uma agulha fina e longa de sua própria bota, apontando-o para a jugular do rapaz. Curvou-se novamente, seu nariz encostado no dele.

- Últimas palavras, John?

- Sem.. chance...

John precisou pular para conseguir beijá-la, mas o ato teve o efeito necessário: Susan afrouxou a mão e ele pôde jogar a agulha longe e pegar a faca de volta, rasgando as costas da moça. Ela fraquejou, e ele aproveitou a chance para colocá-la para baixo, segurando seus braços com uma das mãos. Afastou-se, e preparou seu último golpe, mas foi puxado pela gravata por uma das mãos que Susan conseguira soltar, sendo beijado novamente.

Sem que a faca saísse de sua mão, sentiu-se atingido no flanco com mais força do que gostaria. Soltou-se de Susan, e jogou a faca longe do alcance de ambos, acreditando que isso acabaria com a briga. A moça o chutou fortemente entre as pernas e correu pela arma, sendo arremessada ao chão por um John desequilibrado e xingando de dor.

- Qual é o seu problema? – ele gritou.

- Você é meu problema! E quero acabar com todos os meus problemas! – Susan tentava se arrastar.

- Nós podemos ser mais razoáveis! – John puxou Susan pelas pernas, trazendo-a para mais longe da arma e mais perto de si – Pensar em algum acordo, ou algo do tipo!

- Que tipo de acordo faria com um assassino?!

Susan usou o salto da bota para apunhalar o braço de John, e se apossou da faca. Ele se desviou de alguns golpes, até conseguir segurar as mãos da moça e colocá-la contra a parede, um braço torcido e o outro fortemente preso com sua força. Uma de suas pernas segurava as duas dela, para evitar ataques maiores.

- Agora, vamos conversar, como pessoas civilizadas. – John sussurrou ao pé do ouvido de Susan.

- De civilizado você não tem nada. – Susan disse, entre lágrimas.

- Se eu não tivesse, você não estaria aqui, não é mesmo? – John beijou-a levemente pelo pescoço e pelo ombro, aparecendo devido ao corte feito nas costas.

- Não. Mas também não teria me enganado com seus truques e seria dispensável... – ela se arrepiou após um beijo em sua orelha - essa situação constrangedora.

- Acho a situação constrangedora um tanto quanto apreciável... Seu cheiro é extremamente agra...

- Corta essa. Vamos lá, acaba o serviço. É o que você gosta de fazer, não é mesmo? – Susan virou a cabeça para o outro lado.

- Poderíamos pensar em algum tipo de acordo... – John a seguiu, sem deixar de beijá-la – Que beneficiasse a ambos.

- O que você propõe? Que eu pule da janela e você fique feliz ou o que? Que eu fique quieta para que você me deixe ir embora, para eu ficar a mercê do próximo matador de aluguel que mandarem? – ela tentou se soltar, em vão.

- Eu proponho... – John a virou, de forma que os dois ficaram de frente, separados apenas pelo comprimento de seus narizes – Que você me contrate até pegar o Walter de vez. Armamos um plano, o encurralamos e o matamos. Ou prendemos, está bem. – ele deu de ombros após ver o olhar enojado da moça – O que te parece?

- Insensato e absurdo. E aposto que extremamente caro. – Susan o olhou profundamente – Sem termos adicionais?

- Sem termos adicionais. A menos que você queira algum. – John sorriu, provocante.

- O dobro. Nem um centavo a mais. 15% adiantado.

- Fechado. – ele a soltou da parede, puxando-a para mais perto – Algo mais?

- Só hoje. – ela o beijou.

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