quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Capitulo 1

Hogwarts. Época em que Voldemort estava começando a ter poder pela primeira vez. Essa história foi completamente apagada dos registros, pois caso alguém descobrisse a utilidade da corrente com a palavra “Safety” escrita e tentasse refazer o feitiço e este caísse em mãos erradas, poderia trazer outro bruxo das trevas a esse mundo. Essa corrente possuía o poder de manter um determinado local seguro, o local que o usuário mais desejasse, enquanto esse mesmo usuário estivesse vivo. Esse feitiço ajudou Hogwarts a se manter seguro quando ainda não se conhecia muito de Voldemort. Mas também trouxe alguns infortúnios...

Mais um primeiro de setembro de verão. O sol estava forte, iluminando as ruas de Londres pela manhã. Da janela do caldeirão furado, via-se uma menina, jovem, longos cabelos negros lisos até as pontas e olhos cinzentos sérios encarando o céu. Ela sabia que ele não continuaria aberto por muito tempo, não com os desaparecimentos aumentando. Levantou-se, e não ficava nem maior do que a janela. Olhou-se no espelho prendendo o laço em torno de sua fina cintura mais firmemente, e suspirou.

Último ano em Hogwarts. Nada indicava qualquer mudança quanto aos anos anteriores, que foram difíceis e longos para ela e seu melhor amigo, João. Apertou no pescoço a corrente que tanto os perseguira, e agora estava ali, completa, intacta. Nada aconteceria com Hogwarts. Não enquanto nada acontecesse a ela.

Saiu de seu quarto, colocando tampões de orelha – apesar de não surtirem nenhum efeito. Já faz 17 anos que ela tentava buscar alguma coisa para ajudar na maldição que recebera de um bruxo das trevas pouco depois que nascera, mas não havia cura: ela continuaria ouvindo tudo, qualquer ruído, qualquer segredo em uma distância muito grande para seu gosto. E nada podia ser escondido dela: ela sempre ouviria, por menor que fosse o murmúrio. Isso costumava incomodá-la, mas agora já estava acostumada. Só tentava pensar em outras coisas para poder ignorar a orquestra de vozes.

Carregava um malão em uma das mãos e na outra uma gaiola com uma coruja-das-torres, Klitus. Chamou um táxi:

- Estação King’s Cross, por favor.

Chegaram lá sem demora, ainda que com um pouco de trânsito. Passando pelas estações, ela podia ouvir as pessoas reclamando dos trens atrasados, da viagem, da cabine... Ao entrar na estação 9 ¾, sentiu-se aliviada. Ainda que os barulhos aumentassem, graças a grande locomotiva vermelha, eles eram mais agradáveis e lhes traziam boas lembranças.

Sentou-se em uma cabine ainda vazia, e quando se preparava para ler um livro, a porta foi aberta.

- Jennifer Skole... Sempre na mesma cabine.

- E você não se esquece, não é João? – Jennifer piscou – Sete anos depois...

João riu e sentou-se. Ele era um garoto alto, forte, de pele morena, cabelos castanhos curtos e olhos de mesma cor. Tinha um sorriso branco e expansivo, que agora usava no rosto.

- Férias boas? Sentiu muito a minha falta?

- Oras, teriam que ter sido muito ruins para sentir saudades suas, não é mesmo? – Jennifer desviou de um soco de João – Foram boas, e senti sim. E você?

- Não tanto... Meus pais viajaram a negócios e tive que cuidar do meu irmão mais novo. Mas ele foi divertido...

- Pena...Se quiser se animar, pense no carrinho de doces!

- Outra coisa que eu nunca esqueço!

Os dois riram, e continuaram contando mais detalhes sobre suas férias. João era do Brasil, mas seus pais haviam se mudado com ele para a Inglaterra quando ele tinha apenas dois anos. Eles costumam visitar a família durante as férias de verão, em uma das maiores cidades de lá e ele sempre trazia alguma lembrança para a amiga. Desta vez, trouxe-lhe um pingente da cidade, e ela o colocou junto das letras de sua corrente.

As horas passaram e o carrinho de doces chegou. João saiu ansioso, como sempre, e deu de cara com uma menina loira, cabelos curtos e olhos azuis sonhadores.

- Mary... Desculpe... – ele balbuciou.

- Está tudo bem, João. – Mary sorriu – Devia ter previsto que você atacaria os doces, mas não a mim.

- B-bom, vai ver eu te confundi com um...

- Velhas desculpas nunca colam... – ela corou, sob os risinhos de suas amigas – Jennifer, bem de férias?

- Bem, bem.. E você, Mary?

- Não muito... Um dos desaparecimentos foi em minha cidade. Fugimos para a casa de uma de minhas primas para evitarmos sermos os próximos.

- Sinto muito, Ma... Se tiver alguma coisa que eu possa fazer... – João disse.

- Acho que não. Mas agradeço a preocupação. Bom ver vocês... Até mais!

João ficou assistindo-a ir embora, com os doces na mão. Então voltou a cabine e suspirou longamente.

- Você devia tentar de novo. Depois da longa conversa que tivemos ano passado, se ela não aceitar o primeiro convite para sair com você, ela é uma tonta.

- Não diga isso... Vai saber se ela acreditou em você ou não?

- Depois de tudo que eu disse, acho difícil ela ainda achar que somos um casal.

- Ela só acha isso porque ela não conhece todos os seus defeitos e manias irritantes, sabe... – João disse, irônico.

Jennifer mostrou-lhe a língua, arremessando seu livro em cima dele em seguida.

Após algumas horas, puseram suas roupas de Hogwarts. Vestes negras, com gravatas de azul e cobre – as cores de sua casa, Corvinal. Entraram na carruagem com os gêmeos Kibble e Symon, os dois muito brancos, de cabelos loiros muito claros e olhos negros profundos.

- Hey Kibble, Symon. Tudo em ordem? – Jen disse, sentando.

- Maravilhoso, Jen! – Kibble disse, entusiasmado.

- Fizemos a maior viagem! Fomos a Austrália! – Symon completou.

- E como conseguiram voltar tão brancos? – João perguntou, rindo.

- Mamãe colocou um feitiço... – Kibble suspirou. – Gostaria de ter aprendido a desfazê-lo antes do fim da viagem...

Jennifer não pôde deixar de sorrir ao ouvir a última parte – visto que Kibble sussurrou isso para si mesmo.

Ao entrarem no castelo, sentaram-se a mesa e assistiram à seleção dos alunos para suas casas, como todos os anos, e ansiaram pelo discurso de Dumbledore. Ele era um senhor muito alto, de barba e cabelos acinzentados, olhos azuis profundos e oclinhos de meia-lua. Hoje, usava sua capa festiva roxa.

- Primeiro aos avisos anuais. Lembramos aos alunos antigos, e dizemos aos novos, que é proibida a entrada de qualquer estudante na Floresta Proibida, pois nunca se sabe o que lá vive. Também devo mencionar que o nosso zelador, Filch, mantém uma lista de todos os feitiços proibidos de serem usados nos corredores afixada à porta de sua sala. Ademais, peço para que todos vocês fiquem de olho para fora de suas janelas no dia 31 de outubro, pois estamos preparando uma grande surpresa para todos... Agora, bom apetite!

A refeição correu normalmente, e ao trocar para a sobremesa os alunos começaram a cochichar. Jennifer não pôde deixar de ouvi-los, e sussurrou para João:

- Você percebeu que ele não anunciou um novo professor de Defesa Contras as Artes das Trevas ainda?

- Percebi sim... Já estava imaginando o porquê...

- Será que ele não arrumou n...

Ela congelou no mesmo lugar ao observar uma figura que entrava pela porta atrás da mesa dos professores, dirigindo-se a Dumbledore. Era um homem muito magro, não muito alto, de cabelos propositalmente bagunçados castanhos caídos sobre os olhos, barba por fazer, e ao levantar o rosto, via-se olhos mel-esverdeados duros. Não parecia muito mais velho que os alunos do último ano.

- Jen... Você está branca, que que foi? – João disse preocupado.

Jennifer só apontou. João ficou de queixo caído. Dumbledore levantou-se novamente, pigarreando alto. O salão ficou em silêncio instantaneamente.

- Acredito que alguns de vocês ainda se lembrem de seu ex-colega Luke Veig. Ele se formou em Hogwarts a três anos, e devido a seu grande sucesso nos estudos de Defesa Contra as Artes das Trevas, será nosso professor esse ano. Espero que o tratem bem.

Jennifer ficou olhando Luke longamente. Pela forma que se sentia, não duvidava que todos a seu redor estivessem sentindo o misto de emoções que passava dentro dela: raiva, frustração, depressão, mágoa, felicidade e um pingo de esperança. Eventualmente, seus olhos se encontraram, e pôde-se ver um pouco da dureza de seu olhar derreter.

- Vamos embora, João? – Jen levantou-se de um pulo, antes de tocar na sobremesa.

João a seguiu de perto. Ela jurara que pôde ouvir “Olá, Jenny”, mas balançou a cabeça e continuou andando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário