domingo, 14 de novembro de 2010

2

Jennifer olhava para fora da janela. Atrás de si, podia ouvir as comemorações de amigos se reencontrando após os meses de verão, baralhos de Snap explosivo, somente risos e vozes felizes... Havia também algumas vozes preocupadas, sussurrando sobre desaparecimentos estranhos e visões de homens encapuzados andando por aí... Mas nada disso importava.

Secou uma lágrima que escapava do olho. De tantos alunos recém-formados, porque Dumbledore contratara Luke? Justo Luke? Sabia que ele era esperto e que sabia de tudo que acontecia na escola – logo, devia saber que eles namoraram por anos, até ele desaparecer depois de se formar. Ela ficara meses quieta, triste, até encontrar uma nova ocupação, que foi o cargo de monitora que recebeu em seu quinto ano.

Suspirou ao ouvir o som dos passos de João se aproximando.

- Não precisa se preocupar. Logo vou dormir.

- Mas Jen, se você não falar comigo, vai falar com quem? – ele disse, sentando-se ao lado.

- Não tem o que falar, João. Ele voltou, ele é professor, tenho quatro tempos de Defesa Contra as Artes das Trevas durante a semana, mais nada. É só o que eu preciso agüentar. – Jen levantou.

- Conte comigo pra qualquer coisa. – João sorriu.

Jennifer acenou com a cabeça, e foi para seu quarto. Demorou para dormir, revirando-se enquanto pensava se o mesmo acontecia com Luke.

Jennifer acordou atrasada no dia seguinte, e na pressa prendeu seus longos cabelos em um coque desajeitado, correndo para o Salão Principal para conseguir o café da manhã. Encontrou João já lá, e sentou-se ao lado.

- Bom dia. Horários – ele passou-lhe uma folha.

Ela só se deu ao trabalho de olhar o período do dia: Herbologia, Feitiços e dupla de poções. Ótimo. Não teria que se deparar com Luke já no primeiro dia. Bocejou abertamente, tomou logo seu café e seguiu com o amigo para as estufas.

No caminho, encontraram Kibble e Symons, que logo se juntaram a eles.

- Puxa, Jen... Que barra... – Kibble sussurrou.

- Não quero falar disso, Kib. – Jen sorriu – Vamos curtir o verde, por enquanto.

Ainda que ela pudesse ter ouvido o outro sussurro de “coitada...” do colega, fingiu não fazê-lo. Não ia sentir pena de si mesma – já havia superado tudo isso há um ano.

Ao entrar nas estufas pôde sentir o cheiro forte de fertilizantes e plantas. Pontual, a profª Pomona Sprout logo entrou e começou a explicar como criar e cuidar de um Visgo-do-diabo, de forma que ela não devorasse a todos os moradores da casa, através de continua exposição à luz do sol quando ele se irritasse. Após alguns sucessos de vários alunos, e da captura de alguns outros, a aula terminou e todos voltaram sujos de terra para o castelo, correndo.

Feitiços foi mais interessante. O professor Flitwick foi um dos primeiros mestiços contratados em Hogwarts, sendo metade duende. Disse que como estavam no último ano, deviam se preocupar em criar matérias básicas de forma prática, de forma que os ensinaria a conjugar fogo, água, ar e terra a partir do nada, começando pelo primeiro. Symons foi o primeiro a ganhar uma detenção após acidentalmente colocar fogo em alguns exemplares dos livros do professor, que ficou bastante frustrado com o desempenho de seus alunos.

Jennifer, João, Symons e Kibble sentaram-se juntos no almoço, exaustos. Symons ainda tinha algumas marcas de queimadura, e Jennifer tentava tirar os restos de terra de suas mangas. Enquanto o fazia, acreditou ter ouvido uma risada conhecida, e ao observar ao redor pôde ver Luke olhando para ela e, de fato, ria. Ao perceber seu olhar, mudou de direção, voltando a seriedade que demonstrara no dia anterior.

- Estou exausta...e ainda temos dois tempos de poções... Slughorn vai com certeza acabar conosco...

- Você diz isso porque ele não gosta de você. – Symons disse – Eu acho a aula dele muito agradável, mesmo não sendo daquele grupinho dele.

- Ninguém se importa com o clube pessoal de troféus dele. – João replicou – O problema será a carga de dever de casa. Sabe como ele é fissurado por exames como os NIEMs...

“Nada com o que se preocupar, só mais uma prova igual a tantas outras...” Jen olhou em volta, mas não encontrou o dono de comentário tão pertinente.

- Veremos. Primeiro vamos comer... – Kibble interrompeu, abocanhando um grande pedaço de frango.

Todos então almoçaram, aproveitando para comer bastante sobremesa. Seguiram então para as masmorras, desconsiderando alguns comentários de sonserinos pelo caminho. João tinha particularmente um problema com um dos alunos, Stuffen, pois ambos eram apaixonados pela mesma garota: Mary. Mas Stuffen sempre fora rejeitado pela moça, que sempre flertava com João, o que aumentava os desentendimentos.

Entraram na sala fria, sentaram-se e aguardaram. Slughron logo entrou, levemente acima do peso, com seu bigode de morsa bem aparado e com faixas de branco.

- Boa tarde, turma. Devo dizer-lhes que esse é o ano mais puxado que vocês terão, devido aos NIEMs. E para começar dando uma idéia do que os aguarda, sugiro que abram na página 43 de seu livro e tentem preparar a Poção Polissuco. – houve um grande murmúrio entre os alunos – Não, vocês não poderão levar a poção embora ou tomá-la para saber como é. Sabem bem que é proibida. Mas como é uma poção que demora cerca de um mês para ficar completamente preparada, quero que percebam quais cuidados deve-se tomar.

- Professor...Não temos alguns dos ingredientes. – Jen levantou a mão e disse.

- Vocês podem pegar os faltantes da minha despensa, Srta. Skole. – Slughorn respondeu, ríspido. – Agora, vamos lá, comecem! – bateu palmas, animado.

O professor já havia deixado os hemeróbios prontos, então o que restava era misturar o resto dos ingredientes de forma a manter as proporções corretas. A maior dificuldade de Jennifer foi retirar os dentes das sanguessugas, mas fora isso não teve problemas.

No final do segundo tempo, Slughorn foi passando de mesa em mesa para observar o resultado.

- WIlsby, não era para ela estar azul... Siqueira, parece só um pouco mais molhada do que devia. Acho que colocou pouco pó de chifre de bicórnio, o seu era muito pequeno? Bom trabalho Srta. Skole, parece perfeita. Não esqueça de abaixar a temperatura do fogo antes de sair. Nos vemos na próxima aula, alunos, e não deixem de ler quais mudanças deverão fazer na poção na próxima aula! Ou refazê-la, para alguns... – ele disse, virando uma das colheres praticamente líquidas, de Kibble.

Jennifer ainda pôde ouvir os sussurros frustrados do professor por um tempo, mas ao entrar no salão principal ele se misturava ao barulho dos outros alunos. Soube assim que vários já haviam sido detidos por falhas grandiosas durante as aulas e muitos reclamavam de pontos tirados. Começou a observar as ampulhetas, e reparou que a Grifinória havia ganho muitos pontos, e a Sonserina parecia ter perdido tudo o que ganhou. Corvinal e Lufa-Lufa estavam com praticamente o mesmo nível de pedrinhas, o que a fez sorrir – até esbarrar em alguém.

- Desculpe, estava distraída...

- Tudo bem, Jenny... Digo, Srta. Skole.

- Ah... Luke... Professor... – ela foi abaixando a voz e a cabeça à medida que corava – senhor professor... – sua voz era um murmúrio.

- Não precisa exagerar nas formalidades. – ele sorriu – e nem falar tão baixo... – ele sussurrou.

Ela anuiu, falando mais para si mesma “Vou tentar lembrar”.

- Se esquecer, tudo bem. Procure olhar pra frente, fica mais fácil enxergar as pessoas em geral...

E saiu andando. Jennifer o assistiu se dirigindo à mesa dos professores, chocada por ele ainda usar o feitiço que inventara quatro anos antes. Pois ele foi o primeiro que soube de seu segredo, e imediatamente quis fazer algo para compartilhá-lo, de forma que eles pudessem se comunicar sem mais ninguém saber... Foi cerca de um ano de trabalho, mas funcionara. E ele ainda o usava.

Ela sentou ao lado de João, muda. Ele contava de parte de suas férias para os gêmeos, então não percebeu nada até voltarem ao salão comunal. Os quatro chegaram à águia da porta de suas casas, que logo declarou:

- Hoje é dia de charada! Sou uma caixa, sem tampa nem cadeado, dentro escondo um tesouro dourado. Quem sou eu?

- Um ovo... – Jen respondeu, entediada. – O Hobbit, gente... – adicionou após ver a expressão dos colegas.

- Você realmente devia descansar nas férias, Jen... – Symons riu, entrando.

Jennifer riu, dando-lhe um soco no braço. Sentou-se então embaixo da janela, lendo seu livro de poções, sem, no entanto prestar muita atenção. Tomara que eu me acostume logo...

Após outra noite longa sem conseguir dormir bem, Jennifer acordou cedo, descendo sozinha para tomar café da manhã. Ao chegar no salão principal, resolveu olhar o horário do dia. Período vago, transformações, herbologia e aritmancia. Dia excelente!

Dirigiu-se logo para a biblioteca, onde ficou durante toda a manhã escrevendo revisões das mudanças que teria de fazer em sua poção polissuco, seu relatório parcial do visgo do diabo (que deveria ser terminado naquele dia) e relendo o capitulo de feitiços naturais.

Depois seguiu para o primeiro andar, para sua aula favorita com – na sua opinião – a melhor professora de Hogwarts: McGonagall. Foi a primeira a chegar, ganhando um sorriso de aprovação da mesma.

Sentou-se na primeira fileira, ao centro, e logo o resto da turma chegou. João sentou a seu lado, parecendo cansado: tinha Trato das Criaturas Mágicas pela manhã.

- Bom dia, classe. Aprenderemos nesse primeiro trimestre transfiguração em seres humanos. Começaremos com transfigurar-se em mobília, de forma a se esconder rapidamente quando possivelmente atacados. Começaremos com uma poltrona, que é o modelo mais simples...

Ela acenou para a lousa, onde apareceram as instruções e mandou que todos formassem duplas. A cada dia um tentaria transfigurar o outro, e não era esperado que tivessem sucesso nas primeiras tentativas. Jennifer se concentrou bastante, mas o máximo que conseguiu foi transformar os braços de João em braços de poltrona marrom-listrados, o que foi bem mais que o resto da turma.

- Talvez você devesse ficar com eles... Você parece bem mais confortável assim. – Jen riu.

- Espera só até eu te acertar, para você ver!

Os dois riram e a garota fez seus braços voltarem. Seguiram juntos para o almoço, e lembraram de guardar algumas sobras de seus legumes como a profª Sprout requisitara.

A aula foi como a do dia anterior, cuidando para que o Visgo não atacasse ninguém, mas continuasse crescendo. O dos dois já estava da altura de Jennifer, o que exigia um feitiço para cercá-lo de forma que não saísse do canteiro reservado à ele.

Ela se despediu de João, subindo as escadas correndo. Então entrou em um atalho que sabia dar no sétimo andar, encontrando alguém no caminho.

- Assim parece que está me perseguindo, Srta. Skole.

- O senhor está no meu atalho, prof. Veig. Preciso chegar ao sétimo andar rápido. – Jen desviou, subindo depressa.

“Nosso atalho...” ela ouviu, o que a fez andar ainda mais depressa.

Chegou a classe de aritmancia em cima da hora, mas a professora Vector não pareceu se importar. Afinal, havia quatro alunos na aula e um fazia muita diferença. Foi a maior carga de trabalho que Jennifer recebera até ali, e ficou imaginando quanto tempo demoraria para fazê-la em seu caminho para o Salão Principal.

Jen chegou atrasada em feitiços no dia seguinte, e perdeu 10 pontos da Corvinal por isso. Alcançou a matéria logo, entretanto, visto que tinha praticado durante parte da noite anterior.

Suspirou ao soar do sinal. De repente parecia carregar 100 quilos de livros nas costas e suas pernas se recusavam a subir as escadas. João deu-lhe um tapinha nas costas, e entraram juntos.

A sala continuava a mesma, mas as carteiras estavam todas encostadas nas paredes, deixando um amplo espaço ao centro, na frente da mesa do professor. Vários alunos já estavam ali, e Luke estava sentado sobre a mesa, esperando. Gesticulou para que eles se aproximassem mais e então começou a falar:

- Bom dia classe. A minha idéia do curso de Defesa Contra as Artes das Trevas é, basicamente, se defender contra as artes das trevas. Como vocês já estarão se formando, quero que todos saibam os feitiços básicos de defesa e ataque muito bem, para podermos avançar. Para isso, preciso saber como se portam, então gostaria que se dividissem em duplas para que eu possa vê-los em ação. Sigam a lista que está no quadro, e nada pior que isso. – seus olhos relampejaram por um grupo de sonserinos – Depois de vê-los, provavelmente após o almoço, já poderei passar o plano das aulas. Podem começar.

Jennifer imediatamente puxou João para o outro extremo da sala, e o amigo riu. Não era muito justo, pois já haviam tido muito tempo para praticar durante todos os anos de amizade. Logo era possível ouvir gritos de feitiços por todos os lados, de todos os tipos. Muitos deles já possuíam domínio sobre a listagem do quadro-negro. Quando Luke passou perto de Jen, ela imediatamente ficou tensa e errou João por quase um metro. Ele balançou a cabeça, mas a garota pôde vê-lo rindo.

Após mais ou menos uma hora de gritos, e baques de pessoas caindo, o professor assobiou e todos pararam onde estavam.

- Certo. Agora, suponho que o professor do ano passado os ensinou a lançar feitiços sem pronunciá-los. – apontou para a lousa, e metade da lista de feitiços apagou-se – Quero ver como se saem.

João sorriu encorajadoramente para Jennifer. Sabia que ela não gostava disso, pois tinha dificuldades em se concentrar, já que ouviria todos os outros tentando enganar o professor sussurrando seus feitiços muito baixo. No entanto, conseguiu executar a lista perfeitamente, já que Luke passou perto deles na vez de João atacar.

- Nada de sussurrar. Eu escuto vocês, não importa quão baixo vocês digam...

Jen podia jurar que após dizer isso ele piscou para ela. Mas balançou a cabeça, e distraidamente se concentrou demais no feitiço Reducto, e a prateleira atrás de João virou pó. A maior parte dos alunos parou o que estava fazendo e observaram-na boquiabertos.

- Esse feitiço não está na lista, Srta. Skoles. E eu disse nada tão violento. Detenção na sexta.

- Detenção? Mas ele estava na lista antes! Eu só... confundi. – ela se arrependeu na hora.

- Oito horas, aqui mesmo. Estão dispensados, até depois do almoço.

Jennifer saiu da sala furiosa consigo mesma. Almoçou rápido, frustrada, e logo voltou para a sala com seus colegas. Ao entrar, as mesas já estavam todas em seus respectivos lugares, e o professor os esperava, sorrindo.

- Certo. Vocês não estão nada mal. Mas acredito que precisam de melhoras nos feitiços não ditos, então hoje darei um repasse teórico de como executá-los, e na próxima aula retomaremos a prática.

Luke falou durante toda a aula, até o sinal tocar e os alunos saírem.

Os outros dois dias de aula pareceram voar para Jennifer, só porque ela não queria que sexta-feira chegasse. Conseguiu terminar a carga de dever de aritmancia, mas não conseguira praticar nenhum dos feitiços mudos que Luke mandara. Também não se sentia culpada por isso, já que ele mesmo tomara o tempo que usaria para tanto.

Pouco antes das oito pendurou sua corrente no pescoço, de forma a se sentir mais segura, prendeu o cabelo em um rabo mal feito, e desceu para o terceiro andar. Suspirou longamente, e então bateu a porta.

- Entre, Srta. Skole.

- Com licença, professor. – ela entrou, deixando a porta aberta atrás de si.

- E então? – Luke estava sentado em sua cadeira atrás da mesa, lendo um grosso livro de feitiços.

- E então o que? Detenção, lembra? Oito horas, sexta?

- A Srta. Não deveria falar assim comigo. Sou seu professor, afinal. Sente-se. – apontou uma cadeira.

“às vezes fica difícil de lembrar...”, ela sussurrou, e sentou.

“Mas é bom acostumar.”, ouviu-o.

- Gostaria que escrevesse 50 linhas de “Não devo desobedecer ordens explícitas”. Pode começar.

“Como se alguma vez nós tivéssemos seguido alguma...”, resmungou baixinho, começando seu trabalho.

“Como foram as coisas nesses últimos anos?”

Jennifer olhou para ele, só para ter certeza. Este, por sua vez, mantinha seus olhos fixos no livro, como se fosse a única coisa da sala. Balançou a cabeça, e acelerou a escrita.

“Alguma coisa mudou?”, Luke sussurrou de novo.

“Há dois anos entrei para o quadribol. Artilheira.”. Só mais 45 linhas...

“NOMs?”

“Ótimo em todos, exceto poções que foi Excede Expectativas.” 40..

“Namorado?”

- Não te interessa. – ela olhou para ele, irritada, sem parar de escrever.

“João?”

“Excelente. Talvez finalmente consiga sair com a Mary.”, começou a se apressar mais.

“Imaginei que já estivessem namorando agora.”

“Considere um brinde o fato contrário depois de você sumir.”

“O que tem a ver?”, a voz dele tremeu um pouco.

Jennifer não respondeu, e ele não voltou a falar. Ao terminar, entregou as notas e se dirigiu para a porta. Lá, parou, sussurrando “Como você pôde, sem ao menos uma carta?”, e saiu.

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